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Cavaco Silva resolveu indigitar Passos Coelho como primeiro-ministro. Tomou, mal, uma boa decisão. Foi uma boa decisão porque nomeou o líder da Coligação, a força política mais votada. Mas foi um processo mal conduzido: no tempo e nos termos.
O Presidente da República esteve mal antes das eleições ao deixar instalar a ideia de que só nomearia um governo maioritário. Depois, esteve mal quando, a seguir às eleições, chamou Passos Coelho, encarregando-o de formar governo. Durante esse tempo, a Coligação fez de conta que tinha maioria absoluta e o PS fez de conta que ganhou as eleições. Cavaco assistiu ao longe…
Finalmente, esteve mal, ontem, nos motivos evocados para justificar a sua decisão. Cavaco Silva, que gosta de propagandear consensos e estabilidade, balcanizou o sistema partidário português e apelou aos deputados do PS para votarem contra a direcção do partido. Finalmente, antecipou a quebra de confiança dos financiadores e dos mercados em Portugal.
Bravo, senhor Presidente! Agora, que estamos mais perto da estabilidade, indigitemos.
O argumento tem vindo a ser repetido. Em Portugal, elegemos parlamentos, não elegemos governos. A sério? Ninguém diria… Já estou a ver os donos deste tipo de argumentação a abanar a Constituição da República Portuguesa. E não vou pedir desculpa por não ser constitucionalista. Afinal, quantos são? Mas, é impressão minha ou andaram por aí uns cartazes com a cara de António Costa a pedir “Confiança”?
E os debates, foram com quem? Com os 230 candidatos ao parlamento? Como é que se chama o deputado número 102 da Coligação? E o deputado número 17 da CDU? Elegemos parlamentos através de um sistema em que os deputados são escolhidos pelas direcções partidárias, eleitos por um circulo eleitoral, transformados em “deputados da nação”, sujeitos a disciplina partidária. Depois, contam-se os deputados e quem tem mais deputados ganha. Isto, se os outros todos, que perderam, não decidirem somar os votos e dizer que são a maioria.
É por isto que todos os partidos concordam que é necessário uma reforma do sistema eleitoral. E é também por isso, que nenhum se propõe a fazer essa reforma. Ninguém fica bem na fotografia, porque são muitos e não se vêm nas rotundas.