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Ágata resolveu acrescentar profundidade ao universo fútil de Leonard Cohen. Vai daí, anunciou uma nova versão de “Hallelujah”. Diz Ágata: “Não foi por ele ter partido que gravei o tema”. Raios te partam, Ágata! Mas, quem é que iria pensar numa coisa dessas? Não nos esquecemos da cantora que disse, em tempos, que “uma mulher deve ser sensual, até a pôr a mesa”. E, vai daí, Ágata resolveu vestir uma toalha de mesa de natal (daquelas prateadas e brilhantes) e pôr uma unhas no mesmo tom. Mas, deixou um decote sensual, para provar que é sempre consequente com as suas afirmações. Depois, foi só acrescentar seis crianças com ar de anjinho e voz de catequese, e um altar em azulejo e talha dourada. Coisa mais linda. Aprende, Leonardo!
Por uma vez na vida, Ágata deixa o universo lírico de “Perfume de Mulher”, “Mãe solteira” e “Comunhão de bens”, e mergulha no universo de um cantor popular. É assim mesmo. A cantora não tem preconceitos. Nós também não. Temos é medo. O que é que se vai seguir? Donald Trump a cantar “First we take Manhattan”?
O rock trouxe a cultura da eterna juventude. Mas, Leonard Cohen nunca foi jovem. E nunca foi rock. O seu pai fora alfaiate e ele vinha dos livros: era incapaz de se vestir mal. Conheci Cohen, em 1985, com “Dance me to the end of love”. Não gostei: um cantor velho, com uma voz estragada, e uma música que (não sei porquê) me lembrava Demis Roussos. A minha opinião começou a mudar com o disco seguinte ("I’m your man") e com a descoberta do seu primeiro disco. Foi, então, que percebi que uma série de músicas, que eu gostava, eram, afinal, de Cohen: "Suzanne"; "So Long, Marianne"; "Hey, That's No Way to Say Goodbye". E comecei, também, a perceber melhor os elogios e declarações de amor dos músicos que eu admirava, na altura. Muitos deles entrariam no disco “I’m your fan”.
Leonard Cohen fazia-me lembrar Woody Allen. Não foi hippie, não foi jovem, não usava calças de ganga, nem cabelos compridos. Esteve sempre fora do rock e fora do tempo. Nasceu velho e morreu morreu. É isso, Cohen morreu de velho. E, mesmo assim, a sua morte dói-nos.