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"Esse disco está a 33 rotações! É de propósito?", perguntei. "É", respondeu-me o Zé Rui. E depois, com um ar professoral, explicou-me "os LP rodam a 33 rotações. Os singles e os maxis é que são a 45". "Pois, mas esse é diferente", insisti eu, "esse toca a 45". O Zé Rui olhou para mim desconfiado e, uns minutos depois de o ter passado na rádio a 33, ouve, em pré-escuta, o disco na rotação que lhe indiquei. Olha para mim com um ar maravilhado: "Uau, que diferença".
Em "Victorialand", os Cocteau Twins prescindem, praticamente, dos sons de bateria e, como habitualmente, a voz de Elizabeth Fraser exala sons que não permitem o reconhecimento de palavras. Por isso, não admira que o Zé Rui não se tivesse apercebido que o disco estivesse na rotação errada. É o disco mais onírico, o mais poético, o mais etéreo dos Cocteau Twins. É o meu preferido. E do Zé Rui, que, na altura, me agradeceu o disco novo. Ouvi-o, esta manhã, na rotação certa. E, ainda, é novo.
Hoje, vim para o trabalho a ouvir a voz e a guitarra mágica de Tom Verlaine, nos Television. Ouvi o disco "Marquee Moon" e repeti a sensação de frescura e familiaridade que tive, quando o ouvi pela primeira vez. Cheguei aos Television, pela mão dos seus descendentes - um pouco à semelhança do que tinha acontecido com os Velvet Underground. Ouvi "Marquee Moon", com a voz de Verlaine (aguda e repleta de vibrato) e a guitarra rendilhada e virtuosa (mas isenta de virtuosismos estéreis) e pensei nas bandas que marcaram a minha adolescência: dos Felt aos Go-Beetweens, de Lloyd Cole and The Commotions a Siouxie and The Banshees, dos Echo and The Bunnymen aos Cocteau Twins. Pareciam que já estavam todos, ao mesmo tempo, em "Marquee Moon". O disco surgiu em 1977 - o ano seminal do punk. Não é, no entanto, uma herança datada. Quando ouvi, pela primeira vez, os Arcade Fire, senti que a herança dos Television estava lá. Tom Verlaine nunca alcançou a respeitabilidade de Lou Reed, nem foi tão inventivo como David Bowie (que o chegou a cantar), mas deixa um legado importante. Mesmo naqueles que nunca ouviram: nem o seu nome, nem a sua música.