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Há 75 anos, Roosevelt (Estados Unidos), Churchill (Reino Unido) e Staline (União Soviética) decidiram reeditar o Tratado de Tordesilhas e dividir o mundo em dois. Nessa altura, a guerra ainda estava quente. Não tardou a ficar fria
Querida Theresa,
Como eu a compreendo. Uma vez, há muitos anos, liderei um processo parecido com o seu. Foi uma viagem de finalistas. Combinámos o destino e tentámos marcar a viagem numa agência - uma Euro-qualquer coisa, como se usava na altura. Quando tudo parecia decidido, houve quem não gostasse do preço e desistisse. Com essas desistências, a viagem ficou mais cara e outros desistiram a seguir. Tentei outros destinos, o que agradou a uns, mas levou a novas desistências. E os preços voltaram a subir. A última marcação veio com ultimato: "ou isto ou nada". Acabámos, uns poucos resistentes, exilados na Madeira, como o seu compatriota Churchill. Se precisar de mim, disponha. Boa sorte lá com os seus colegas e com a sua euro-agência.
“E, ali, estão os nossos inimigos”, terá dito Winston Churchill. “Na bancada dos trabalhistas?”, perguntou o jovem conservador. “Não, esses são os nossos adversários”.
Dizem que Churchill foi um dos pioneiros da ideia de uma Europa unida. Era bom para a paz, para a economia, para a solidariedade. O projeto teria o apoio do Reino Unido, que, percebeu-se depois, não se incluía na Europa. Inclui-se, apenas, por exclusão de partes. Porque não é América, nem África, nem Ásia, nem Oceania. O Reino Unido sempre esteve com um pé dentro e outro fora da Europa. Por vezes, parece que faz bem. Quando, por exemplo, resiste à burocracia europeia que quer definir o tamanho das maçãs. Mas, outras vezes, é irritante. Quando faz valer o seu peso para negociar excepções, que não são permitidas a mais nenhum Estado.
Agora, a propósito da crise económica, da pressão migratória e do crescimento da direita radical, Cameron resolveu referendar a permanência do Reino Unido na europa. Vai-se votar “In ou “Out”. A coisa anda ao sabor da agenda mediática. Aparecem mais uns refugiados, cresce o “Out”. Fazem-as as contas ao impacto económico, sobe o “In”. Farage discursa de forma apaixonada e povo quer estar “Out”. Um louco mata uma deputada trabalhista, estamos “In”.
Independentemente do resultado ser “In” ou “Out”, já há um resultado que é certo. O Reino Unido está em tendência “down”, ou seja para baixo. E, com eles, descemos todos.
Há um diálogo perturbador quase no final do filme Seven, de David Fincher. O jovem polícia (Brad Pitt) não consegue entender a crueldade do assassino (Kevin Spacey). Este responde que só cumpriu o seu trabalho. Quando o polícia lembra a violência do “seu trabalho”, o assassino lembra-lhe que ele, enquanto polícia, também faz uso da violência. O polícia responde que o criminoso tem um prazer sádico nas suas execuções. Este responde que não há nada de errado em retirar prazer do trabalho. Isso só o ajuda a ser melhor naquilo que faz. Obviamente, o assassino é um manipulador. Mas o seu discurso (quase) parece fazer sentido.
Lembrei-me deste diálogo, ao chegar ao fim das Memórias da Segunda Guerra Mundial, de Winston Churchill. O homem tinha muito gosto naquilo que fazia. E, provavelmente, isso foi uma das condições que o fez declarar e ganhar a guerra a Adolf Hitler e o regime nazi. Já sabia da força e determinação de Churchill. Mas surpreendeu-me a forma como, ao longo do livro, vai adjectivando a guerra, e o prazer que revela no seu trabalho. Porque a guerra não é um trabalho qualquer.
Ando a ler as "Memórias da II Guerra Mundial", de Winston Churchill. O que mais me impressionou, até agora, foi o estado adormecido da Europa, nos anos que antecederam a Guerra.
Às vezes as pessoas perguntam “”como é que foi possível?”. E aponta-se um guerreiro louco, megalómano e cruel. Hitler foi isso tudo. Mas, não chega como explicação. Porque, o normal era que um tipo daqueles fosse preso, ou internado, ou morto. Mas não foi. As suas palavras iradas foram acolhidas numa Alemanha humilhada, e não foram contrariadas pelos países europeus: por ingenuidade, por fraqueza ou por conveniência. É chocante que a Polónia tenha anexado partes da Checoslováquia, depois da invasão alemã. Ou que os soviéticos tenham anexado vários países, ao abrigo de um pacto com os nazis. Depois, foram eles os invadidos. Churchill critica, ainda, as políticas “pacifistas” dos franceses e dos ingleses. Os primeiros, foram arrasados num mês. Os segundos aguentaram a guerra sozinhos, até à entrada dos EUA.
Às vezes, parece que a Europa aprendeu pouco e mudou pouco. Basta ver como tanta gente acaba de descobrir que há morte e miséria em África e no Médio Oriente.