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O 25 de Abril é "nosso", foi um dos argumentos utilizados para questionar ou, mesmo, repudiar a presença do presidente do Brasil, em Portugal. É "nosso", sim. Mas, será só nosso? Dei por mim a reler partes deste livro do historiador britânico Kenneth Maxwell (especialista em Portugal, Espanha e Brasil). O livro aborda "A construção da democracia em Portugal", centrando a sua análise no período entre 1974 e meados da década de 1980 - com a entrada na CEE, a eleição presidencial de Mário Soares e as maiorias absolutas de Cavaco Silva. Mas contextualiza este período, de pouco mais de 20 anos, com a história de Portugal: desde a sua fundação, até ao período do Estado Novo. O livro do historiador termina com Ciência Política, evocando a "terceira vaga de democratização", de Samuel Huntington. De acordo com esta teoria, o 25 de Abril foi o precursor da transição democrática nos países da América Latina e da Europa de Leste, na transição dos anos 80 para os anos 90. Fomos, portanto, uma inspiração para o mundo. Mas, pelos vistos, há quem prefira que sejamos os maiores da nossa aldeia.
Chamava-se "Lar do pescador", mas para nós era a "D. Alice". Ficava junto à antiga lota, inaugurada pelo Almirante Américo Thomaz, nos anos 50, e abandonada na euforia do Portugal na CEE, em favor de um local mais perto do mar. Mas, apesar da lota ter partido aos poucos (e já a cair aos poucos) o "Lar do pescador" foi ficando e resistindo. Muitos pescadores, de partida ou a chegar, continuavam a passar na D. Alice: para uma sopa, para um copo de vinho, para uma sandes, para um café. Para dois dedos de conversa, anedotas e disparates. Para abraços e rodadas. Para forrar o estômago e afastar o sono. A D. Alice e os pescadores viram a fauna a crescer e a diversificar-se: homens da construção, operários, guardas noturnos, prostitutas, notívagos, estudantes universitários. Já não sei quando fechou. Mas, antes de fechar, o "Lar do pescador" foi uma casa aberta.
Decisões difíceis: o que comer com este calor? Uma sopa fria? Salada? Peixe grelhado? Fruta? Com temperaturas acima dos 30 graus, apetece algo frugal. Mas, até nisso devo ser comedido. Em dia de Conselho Europeu, é de evitar qualquer conotação com países como a Áustria, a Suécia, a Dinamarca ou mesmo a Holanda - que mudou de nome, mas não mudou de opinião.[Foto: Reuters]
Soares 85, Cavaco 85, PRD 85, BCP 85, Continente 85, Amoreiras 85, Freitas 86, Soares 86, Madredeus 87, Maioria absoluta 87, FP-25 87, Chiado 88, Rosa Mota 88, Independente 88, Berlim 89, TSF 89, Público 90, A1 91, Timor 91, BES 91, Sub 20 91, Maastricht 92, SIC 92, CCB 92, Geração Rasca 92, Monteiro 92, Siza 92, Cunhal 92, Lisboa 94, Ponte 25 Abril 94, Guterres 95, Sampaio 96, Portas 97, Aborto 98, Ponte Vasco Gama 98, Expo 98, Saramago 98, Amália 99, Bloco 99, Timor 99, Macau 99, Serralves 99, Figo 2001, Porto 2001, Barroso 2002, €uro 2002, Casa Pia 2002, Euro 2004, Santana 2004, Sócrates 2005, Casa Música 2005, BCP 2006, Cavaco 2006, Aborto 2007, Ronaldo 2008, BPN 2008, Fado 2011, Troika 2011, Souto Moura 2011, Passos 2011, BES 2014, Operação Marquês 2014, PT 2015, Oliveira 2015, Costa 2015, Marcelo 2016, Euro 2016, Guterres 2016, Eurovisão 2017, Incêndios 2017, Covid 2019, Brexit 2020. Portugal assinou a Adesão à CEE em 1985. São 35 anos na Montanha Russa.
Os GNR escreveram a canção, depois de um sobrinho ter perguntado se, com “Portugal na CEE”, podia continuar a comer gelados. Ora, nós queríamos “Portugal na CEE”, precisamente, para comer gelados. E para comer fora, comprar carro, fazer férias, andar de avião. Parece pouco, mas não é.
Agora, critica-se os portugueses por comer gelados. Quem critica, sempre comeu. E continua a comer. No fundo, está a dizer que os outros não têm direito a comer gelados. Chamam a isto, “viver acima das suas possibilidades”.
Depois de Abril, tivemos MFA, COPCON, PS, PCP, PSD, CDS, AD, FP-25, FMI. A CCE é que tardava a chegar. Por isso, há 30 anos, acompanhámos a cerimónia dos Jerónimos. E arregalámos os olhos, quando vimos a caneta de Soares. Soares começou, ali, a ser fixe. “Oh, boy é tão bom estar na CEE”.
Depois, como nas novelas, descobrimos que os ricos não são felizes: têm familiares que roubam no escritório e criados que conspiram na cozinha. Até então, tínhamos estado embriagados, com os sumos de laranja e papaia.
Mesmo assim, não trocamos o “Portugal na CEE” pelo “Portugal dos Pequenitos”.