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O sr. Carlos fechou a loja, há poucas semanas. A loja do sr. Carlos tinha muitos anos. Atravessou várias gerações. O sr. Carlos vem de uma família de comerciantes, mas teve de fechar a loja porque "isto não está bom para o comércio". Passei-lhe à porta. Está reaberta. Agora, é uma imobiliária. Agora, o sr. Carlos vende casas: moradias e apartamentos com "acabamentos de luxo" (agora, é tudo "de luxo") e lojas com "excelente localização". Deixo duas questões, para fechar a loja:
Como é que um país que não tem dinheiro para comprar casas normais, só anda a vender casas de luxo?
E como é que um país que não para de fechar lojas, continua a abrir lojas de vender lojas?
Ao saber que as chamas rodeavam o aldeamento de luxo, o comentador questionou a importância do ordenamento da floresta. Sim, defendeu, porque o empreendimento estava bem ordenado, cuidado e limpo e, mesmo assim, estava a arder. Não sei dizer se estava, ou não, bem ordenado. Vamos partir do princípio que sim. Isso não invalida nada. Pelo contrário. O que aconteceu é que o fogo chegou à zona ordenada, alimentado e robustecido por vários quilómetros de floresta desordenada, habitada pela tradicional monocultura de espécies exóticas. E os problemas da floresta (como todos os outros) não se resolvem com condomínios de luxo, que não nos protegem de coisa nenhuma. Às vezes, pode ser injusto. Mas, o contrário também seria.
A medida presta-se à caricatura. As casas que apanham mais sol vão pagar mais IMI?! Sim, mas a medida não é nova. Foi introduzida no governo anterior. Este governo apenas alterou o peso de cada fator, no apuramento do IMI. E esta alteração veio, agora, chamar a atenção para os critérios absurdos usados. Faz sentido? Não, nada disto faz sentido.
Quando se decide que uma casa deve pagar mais, porque tem melhor exposição solar, está-se a dizer aos cidadãos para comprarem uma casa com muita sombra e humidade. Ignoram-se os custos energéticos e as condições de salubridade. Quando se penaliza alguém que mora ao pé de uma escola ou de um hospital, está-se a dizer para comprar uma casa nos subúrbios. Esquecendo o Estado que, depois, vai ter que construir a estrada de acesso e pagar os transportes, ou, até, o novo hospital. E entretanto, os centros das cidades vão-se esvaziando. Nada que um programa Pólis não resolva mais tarde. Gastando, uma vez mais, os recursos do Estado. Claro que, enquanto uns olharam para o copo meio vazio, outros olharam para o copo meio cheio. Algumas manchetes destacaram que as casas com vista para os cemitérios, ou para estações de tratamento, que vão pagar menos. É a compensação para os que pagam mais por terem vista para o mar, por exemplo.
Um lugar ao sol, não pode ser uma coisa má. Mas, parece que muita gente andou a apanhar demasiado sol na moleirinha.