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Esta manhã, fui atacado pelo pecado da luxúria. Enfim, apeteceu-me comprar uma coisa de luxo. Pronto. Pensei numa casa de praia. Mas, depois, começou a chover. Refiz os meus planos. Enchi o depósito. É mais caro, mas também dá status. Só tive pena de não dar para abrir o vidro e andar com o braço de fora. Mas (lá está!) não se pode ter tudo.
De peito cheio e olhos a cintilar, o senhor Lemos e a dona Conceição mostram-nos o carro novo. É um SUV alemão, de vários milhares de Euros. Marca a venda do negócio e a chegada da reforma. O corolário de uma vida, inteira, de trabalho e sacrifício. O SUV irá levá-los à terra, com todo o conforto; e ao Algarve, com todo o estilo. Uma vida, inteira, num carro alemão. Arrisco a pergunta, retórica: "Ainda estiveram uns anos fora, não foi?" "Sim", responde o senhor Lemos, "estivemos 11 anos em França". "E, antes disso", acrescenta a dona Conceição, "estivemos 11 anos em Lisboa". "Que engraçado", digo,"11 anos, em cada lado". Afinal, penso, a vida pode ser como no futebol. São 11 contra 11. No final, ganha a Alemanha.
Estava eu a preparar-me para ultrapassar um camião, na autoestrada, quando este resolve passar para a faixa da esquerda. Percebo que tenta ultrapassar outro camião. Reduzo a velocidade, enquanto sopro para as narinas. O camião à minha frente leva materiais de construção, o da direita leva uns automóveis franceses bem bonitos. Vai atrás de um terceiro camião, que leva galinhas e pintainhos. O camião à minha frente não consegue ganhar velocidade, para ultrapassar os outros dois e encostar. Mantenho-me atrás dele, enquanto se forma uma fila de carros atrás de mim. Olho para o camião ao meu lado - o que leva os automóveis - e faço um gesto de apreciação com o polegar para o motorista, que me responde esfregando o polegar e o dedo médio - como que diz "quer comprar?" Digo que sim, com a cabeça, e ele responde fingindo que assina o contrato de compra e venda. Volto a dizer que sim com o polegar, mas, entretanto, o camião que levava as galinhas entra para a área de serviço e o camião à minha frente consegue, finalmente, encostar. Faço um gesto ao motorista que leva o camião com os automóveis, a pedir desculpa, apontando para a fila de carros atrás de mim. O senhor acena, compreendendo a situação. O negócio foi com os pitos.
E aquelas pessoas que saem da via rápida e fingem que vão meter gasolina, só para passarem à frente dos outros na fila? Não são todas, claro, só algumas. Muitas nem se dão ao trabalho de disfarçar.
Sempre que possível, ande a pé. Evite engarrafamentos.
O meu primo tem um carro igual ao do senhor ministro. Perguntei-lhe se o tinha comprado, ou se... Reagiu mal e começou a insultar-me. Tive que lhe pedir desculpa e tudo! Mas, acho que apreendi a lição. Sim, apreendi.
Cuidado com as vendas ao postigo! Podem ser perigosas! Esta manhã, fui tomar um café ao postigo. Soube-me tão bem, que a seguir comprei uma mala de viagem, para usar sabe-se lá quando, e uns sapatos a bom preço. Depois, cheguei a casa e descobri que não calçava 45. Voltei à rua, para trocar os sapatos, mas regressei a casa com um carro alemão. É bem bonito (todo desportivo e tal!) mas não tenho dinheiro para o pagar. Percebem, agora, a minha chamada de atenção?
Olá amigos! Preciso da vossa ajuda, para comprar um carro novo. Tem de ser de luxo. Não é mania. É uma necessidade. Preciso, desesperadamente, de aumentar o distanciamento social. Obrigado.
Há vários carros elétricos estacionados em cima do passeio. Uma campanha publicitária de uma marca japonesa, decerto autorizada pelo poder público. Por mais elétricos que sejam, estacionar carros, em cima do passeio, não dá bom ambiente. Pelo contrário, dá mau.