por Miguel Bastos, em 03.03.21
"O livro de deslembramento" ainda mal começou e já temos o Mogofores:
"o Mogofores tinha esse nome esquisito que eu até nunca perguntei quem lhe tinha castigado assim, e tinha uma mulher muito feia, que tinha vindo de Portugal e trocava algumas letras das palavras
na minha escola quando contei ninguém acreditou, mas em vez de vaca ela dizia «baca», e ainda dizia «dibertido» e «sobaco»
mas há uma palavra que ela dizia sempre e eu tinha de fingir que estava a rir de outra coisa: a mulher do Mogofores dizia «iágua» quando queria beber água
todos riam a disfarçar, um bocadinho, menos o Mogofores"
O livro, dizia eu, ainda mal começou e as personagens já nos parecem familiares. (E, sim, tenho familiares em Mogofores. E, não, não é o José Cid). Mas, o mais familiar de todos é, mesmo, o autor: Ondjaki é da casa. Por isso, estranho o selo da Caminho: "autores estrangeiros de língua portuguesa". Como assim, "estrangeiros"?