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Dia de Portugal. Este dia, que já foi da raça, é, agora, das Comunidades. O Presidente vai ao encontro delas, espalhadas pelo estrangeiro. Todos os anos, voa para um sítio diferente. Mas há, também, novas comunidades a nascer. Pessoas que vieram de fora, mas que, também, já são de cá. Falam português, comem bacalhau e têm filhos que, por vezes, são tão (ou mais) portugueses do que dos países dos pais. E que se sentem tão portugueses, como os meninos que são filhos de pais que nasceram na Beira, no Minho ou no Alentejo. Hoje, ouvi meninos a cantar a história de Portugal e das suas várias regiões. Varri o palco, com o olhar, e vi meninos de várias origens. Pensei nos que têm origens na Rússia, na Bielorrússia ou na Ucrânia. E pensei que Portugal é um Dia Bom.
O programa "Portugueses no Mundo" está no ar, há vários anos, na Antena 1. Durante vários anos, a jornalista Alice Vilaça costumava perguntar: "De que é que tem mais saudades do nosso país?" As respostas variavam pouco: "da família", "dos amigos", "do sol", "do mar", "do bacalhau". Percebo, é difícil resistir ao bacalhau. Mas, e a língua? Falo da portuguesa, não a do bacalhau. A resposta "da língua" não era habitual. É estranho porque, quando saio de Portugal (basta uma semana), fico cheio de saudades da língua portuguesa, que está ligada ao bacalhau, mas é (ainda) mais saborosa. A minha pátria é a língua de Caetano a roçar na língua de Camões. Hoje, é dia de a celebrar.
Leio esta manhã: "Marcelo Rebelo de Sousa abre a porta à venda de livros". Pelo que percebi, as pessoas não andam a ler, porque a venda de livros tem estado limitada. A partir de hoje, as pessoas vão desligar as novelas e os futebóis, para se dedicarem (finalmente) àquilo que mais gostam: velejar na epopeia grega, desbravar o existencialismo francês, mergulhar no romantismo alemão. Cuidado Cristina, não abordes a lírica camoniana, no programa da manhã, e vais ver as audiências a cair a pique! Ou é isto, ou não estou a ver bem o problema. Excesso de Camões.
"O meo fim de semana foi só bricar, ver firmes e fazer preguissa". Caro Luís Vaz, será que consegues ajudar o meu aprendiz da língua de Camões? Hoje não, evidentemente, que é o teu dia. Mas, talvez para a semana ou assim... Lembrei-me de ti, porque causa daquela coisa do "Erros meus, má fortuna"...
Germano Almeida recebeu o Prémio Camões, no Rio de Janeiro. O escritor ficou surpreendido com a reacção dos cabo-verdianos: "Acho que gostaram mais do prémio do que eu", disse ele. Por isso, dedicou o prémio ao povo de Cabo Verde, mas avisou logo que o dinheiro (100 mil euros) era para ele. Germano Almeida tem muito humor. Por isso, gostava que ele fosse chatear o Camões. Daria um belo livro.
Por causa de Coelho, sacamos um Camões da cartola: "Erros meus, má fortuna..."
O dia 10 de Junho é Dia de Portugal. E de Camões. Ah, e das Comunidades Portuguesas. Porque é que em Portugal complicamos tudo? Um feriado que comemora Portugal, Camões e as Comunidades Portuguesas; comemora tudo, em geral, e nada, em particular. Parece que nasce de uma indecisão: “Então o que é que vamos comemorar Portugal ou Camões?”; “Não sei, o melhor é comemorar os dois”.
Um feriado para celebrar Camões terá sido ideia dos republicanos. Camões representava a glória de Portugal. Salazar, que adorava evocar as grandes figuras, manteve as comemorações. Mais tarde, juntou-lhe Portugal e a sua Raça, que se espalhava do Minho até Timor. Quando essa Raça começou a ser questionada, estoirou a guerra colonial e passou-se a evocar, também, as Forças Armadas.
Depois do 25 de Abril, a "Raça" foi substituída pelas “Comunidades”. Mas, o tipo de comemorações não mudou. Devia ser uma festa dos portugueses, mas a maioria não dá por nada. Restam os que discursam; os que desfilam na parada; os que recebem honrarias; os que analisam o discurso do Presidente da República e os que andam a chatear o Camões.