Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

- Afinal, o que é isso das "raves"? - perguntou-me o Joaquim.
- São festas com música de dança, noite fora.
- Música de dança, como? Danças de salão? Disco? Samba?
- Basicamente, música eletrónica: house, techno.
- Então, é uma noite de discoteca normal.
- Acaba por ser. Mas, muitas vezes, as "raves" são feitas em sítios diferentes.
- Tipo…
- Zonas industriais, monumentos, praias...
- Ah. E depois, ficam na praia?
- Não, depois as pessoas estão estoiradas e vão para casa dormir.
- Que pena. Quando eu vivia em Angola, também fazíamos festas para dançar a noite toda.
- A sério?
- É. Eu e os meus amigos pretos das cubatas. Depois, íamos comprar pão e ficávamos na praia, a dormir.
O Joaquim viveu em Angola, até 1975. África está-lhe entranhada na pele. De tal forma que, apesar de ser branco, muita gente chama-lhe "preto": o "Quim Preto". Lembrei-me dele, porque fui a uma festa, num teatro, que parecia uma "rave". Parecia, mas não foi. Porque acabou, ao fim de hora e meia. Enfim, coisas de Branko.
Pelé morreu. Na rádio, na televisão, nos jornais, lembram o epíteto: "rei". O rei Pelé. O meu coração republicano lembrou-se, no entanto e de imediato, que Pelé foi ministro do desporto, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Um homem negro, pouco escolarizado, vindo da pobreza, catapultado (pelo futebol) para o estrelato mundial, era, agora, ministro. Poucos anos depois, outro negro famoso tomou posse como ministro (desta vez, da cultura): Gilberto Gil. Não faço ideia se foram bons ministros, mas não posso deixar de pensar o quão inspirador terá sido, para tantos jovens negros e pobres, ver dois dos seus serem empossados no cargo de ministros. Aqui, os dois posam para a fotografia. Há um terceiro, na fotografia: Caetano Veloso. Um "negro quase branco", que nunca foi ministro, mas que, há muito, reina no meu coração republicano.
