por Miguel Bastos, em 23.01.24
O inglês tem a expressão "don't judge a book by its cover". À letra, "não devemos julgar um livro pela capa". Em português, dizemos "quem vê caras, não vê corações". Vem isto a propósito da morte de Frank Farian, aos 82 anos. O músico, compositor e produtor ficou conhecido pela criação dos Boney M. e dos Milli Vanilli. Os primeiros, nasceram nos anos 70 do "disco". Os segundos, num caldo musical, na transição dos anos 80 para os anos de 1990. E foi, precisamente, nesse ano, que o caldo entornou. A dupla fazia um playback, para a MTV, quando a gravação encravou. Nada que não pudesse ter acontecido com outra banda. Mas foi na sequência desse acidente, que se soube que nem Fab Morvan, nem Rob Pilatus cantavam nos discos. Eram modelos: davam corpo e estilo a outras vozes. A verdade foi assumida por Frank Farian que, depois desse incidente, editou o disco "The Moment of Truth" ("O Momento da Verdade"), dos "The Real Milli Vanilli" ("Os Verdadeiros Milli Vanilli").
Foi, também, na sequência desse episódio, que ficámos a saber que aquele cantor irrequieto dos Boney M (Bobby Farrell), na realidade, não cantava. Que aquela voz grave, de um negro das Caraíbas, era de um branco da Alemanha, entre o louro e o ruivo. Era de Frank Farian, que, na realidade, se chamava Franz Reuther. Esta ideia de dar corpo a vozes e canções foi muito explorada, nos anos 90 - sobretudo, por europeus. A senhora, forte e de meia idade, cantava. A jovem modelo, alta e esguia, aparecia na capa e nos vídeos. Mas, a receita continua a ser explorada. Muita música das grandes estrelas americanas, da atualidade, é feita por compositores e produtores europeus, na Europa ou nos Estados Unidos. De resto, foi nessa américa, dos sonhos, que Frank Farian morreu, hoje, aos 82 anos.