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Nuno Pacheco assinala a coincidência, hoje, no Público,: "no mesmo ano em que Manuel Alegre escrevia esta sua trova ['Trova do vento que passa'], 1963, era editada do outro lado do Atlântico mais uma canção a falar do vento, 'Blowin' in the wind'".
A coincidência é destacada no livro "Canções da Liberdade, a Política Cantada em Portugal e no Mundo (1964-1974)". Nuno Pacheco evoca, depois, outros livros que abordam o tema da canção política: entre eles o recente (e excelente) 'A Revolução antes da Revolução', de Luís de Freitas Branco.
Outra coincidência: este texto está nas costa de outro, também no Público, 'À volta da aparelhagem', onde Miguel Esteves Cardoso reflete sobre a falta de discussão dos mais jovens, à volta do prazer de ouvir música e ver televisão, em conjunto, lamentando que já ninguém o faça.
Terceira coincidência: escrevo este texto, enquanto tento adivinhar o que Capicua estará a conversar, no estúdio que fica debaixo dos meus pés, com o autor de um disco que se chama, precisamente, 'Coincidências': Sérgio Godinho.
Coincidências. Que as há, há. Felizmente.
Uma canção é composta por música e letra. Uma das questões que se coloca, frequentemente, aos escritores de canções, é saber o que é que nasce primeiro. Outra, é saber se a letra pode ser considerada um poema. Se vive sem a melodia. Neste caso, a discussão tende a ser acalorada. Porque vivemos, ainda, com uma concepção de "acima e abaixo" - "cultura erudita" versus "cultura popular". Conheço muitos versos da "cultura popular" que são bem melhores do que alguns versos da "cultura erudita". Não há muito tempo, o tema foi discutido por causa do Nobel da Literatura, atribuído a Bob Dylan. Muitos "da literatura" não gostaram. Os da cultura popular chamaram-lhe "snobs". Não sei quem tem razão, mas não me apaixonei pela discussão. Estranhei, apenas, por uma questão "técnica". Para mim, não se trata de saber se os textos de Bob Dylan são suficentemente bons, para serem premiados com um "Nobel". Mas, antes, saber se as canções, os discos ou os concertos ao vivo podem ser premiados como "literatura". Estranharia um "Grammy" ou um "Brit Award" para Saramago, por exemplo. Um dos escritores de canções mais brilhantes que conheço (música e letra), chama-se Fausto. No "Fala com Ela", da Inês Meneses, diz que não se considera poeta e explica porquê. Não é por ser mais, ou menos. Não é por ser "acima ou abaixo". É por ser outra coisa.