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Bernstein

por Miguel Bastos, em 17.03.23

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1959. Leonard Bernstein aperta a mão de Eisenhower, o presidente dos Estados Unidos. O maestro acabara de dirigir a Orquestra Filarmónica de Nova Iorque, na "Fanfarra para o Homem Comum", de Aaron Copland. As cerimónias marcavam o início da construção do Lincoln Centre - o centro de artes, que iria iluminar o mundo, a partir de Nova Iorque. O biógrafo, Barry Seldes, considerou que este era o momento certo, para assinalar tudo o que esteve errado: o controlo político, as pressões, as investigações, as listas negras, os afastamentos, as retenções de passaporte, a censura, a autocensura, as confissões. Bernstein, como tantos artistas e intelectuais seus contemporâneos, passou por tudo isto. Foi, assim, a América do macarthismo. A "caça às Bruxas" está delimitada no tempo, mas vai para além desse tempo.
 
Ao longo de toda a sua carreira, Bernstein - um liberal, um progressista, um homem de esquerda - sentiu pressões políticas, particularmente quando os republicanos estiveram no poder. A forma como Bernstein lidou com essas pressões, faz lembrar os relatos dos artistas portugueses durante a ditadura. Esta biografia política não se limita a tentar perceber as ideias políticas do compositor e maestro, o seu grau de envolvimento na ação política, ou a forma como lidou com o poder político. Tentou perceber, também, de que forma é que a política americana influenciou (condicionou?) a sua música. Do ponto de vista político, esta biografia serve, ainda, para nos lembrar que a liberdade e a democracia estão, permanentemente, em risco. Mesmo quando tudo parece estar bem.

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Bravo, Gustavo!

por Miguel Bastos, em 14.02.23

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Parece que passou despercebido, à maioria dos comentadores. O mercado de inverno fechou, com uma das maiores transferências de sempre: Gustavo Dudamel trocou a Filarmónica de Los Angeles, pela Filarmónica de Nova Iorque. Gustavo, venezuelano, 42 anos, filho da pobreza e da utopia do "El sistema", vai ser maestro titular, a partir da temporada 2026/27, da orquestra que já foi dirigida por Leonard Bernstein e outro Gustavo: Mahler. Quando chegou a Los Angeles, há mais de 10 anos, teve direito a jornalistas, multidões e celebridades. Uma coisa à americana: "Bienvenido Gustavo". Tudo indica que, agora, o fenómeno se vai repetir. Estive a recordar alguns artigos de imprensa, "trailers" promocionais , entrevistas, conferências de imprensa. Numa delas, perguntavam a Dudamel que música é que ele gostava de ouvir: "Beethoven, Mahler, Schostakovich...". E ouve música popular? "Claro, eu adoro tango, merengue... Astor Piazolla, Juan Luís Guerra...". "Eu estou a pensar em música americana", insiste o jornalista. "Eu também", responde o maestro a sorrir. Ele veio da terra de Simón Bolívar, o libertador.
Recordo a passagem da Orquestra Juvenil da Orquestra Simón Bolívar pelo Royal Albert Hall, nos BBC Proms de 2007. "Eles podiam ter trazido Mahler ou Beethoven", diz a locutora da BBC, "mas preferiram mostrar quão boa é a música deles". Nessa noite de glória, a Orquestra tocou vários compositores da américa latina e as "Danças Sinfónicas de West Side Story", de Bernstein. O compositor tornou-se indissociável da orquestra e de Dudamel. Foi ele a assinar a direção musical da versão mais recente do musical de Bernstein, realizada por Steven Spielberg. É ele que vai dirigir a Orquestra que já foi de Bernstein. É ele que tem levado a música dos compositores latino-americanos, ao mundo inteiro: entre eles, Heitor Villa-Lobos. É ele que que faz cantar a língua portuguesa, nos melhores palcos do mundo. Bravo, Gustavo!

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Fado, Fátima e Futebol

por Miguel Bastos, em 01.07.22

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No prefácio, Martim Sousa Tavares deixa a pergunta: "Como lhe chegou o livro às mãos"? E deixa duas respostas possíveis: porque gosta muito do autor, Haruki Murakami, ou pelo interesse que tem sobre música. Respondo por mim. Só li um livro de Murakami e (lamento!) não gostei muito. Caio, portanto, na segunda categoria: a dos que gostam de música. Mas, acrescento um terceiro motivo: gosto muito de entrevistas e de conversas. Portanto, a coisa promete. Nos próximos dias, vou ouvir dois velhinhos japoneses a falar sobre Brahms, Beethoven e Bernstein. Deve ser o "Fado, Fátima e Futebol" lá do país deles.

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Música pimba

por Miguel Bastos, em 06.11.18

Este texto andava perdido... nos arquivos da minha computadeira. Hoje, no dia em que Tchaikovsky morreu, retirei o verbete para publicação. Não vale a pena fazer RIP (já foi há 125 anos). Mas vale a pena ouvir a música de Tchaikovsky. Acho eu....

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"Só não tenho paciência para as 'pimbalhices' do Tchaikovsky", disse o meu amigo. Ele vive numa dessas casas com "Sopa e gravatas e tudo", como dizia Solnado. E "tudo", neste caso, implica ter lugar cativo no São Carlos e na Gulbenkian. Ora eu que, dos luxos descritos só tenho a sopa, não percebi. De resto, demorei anos a perceber. Foi Jeremy Siepmann quem me explicou, depois de lhe comprar um livro sobre Tchaikovsky. Siepmann (músico, professor, divulgador) confessa que chegou tarde a Tchaikovsky, por snobismo. Para muita gente (como ele próprio) educada na escola musical germânica, Tchaikovsky é Hollywood. Ainda bem, digo eu. Devemos a Tchaikovsky alguma da melhor música escrita para cinema. E devemos a Hollywood a distribuição, à populaça, de alguma da melhor música da história.

 

Tchaikovsky invejava a forma como os italianos esbatiam as fronteiras entre a musica popular e erudita. Tentou fazer o mesmo e foi bem sucedido. Obras como o "Quebra-Nozes" e o "Lago dos Cisnes", ou as aberturas "1812" e "Romeu e Julieta" são incrivelmente populares. As suas sinfonias influenciaram Shostakovitch e Mahler. Mas também Bernstein e John Williams. Mas isso, (lá está!) é Hollywood e as sua "pimbalhices".

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