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Ryuichi Sakamoto morreu, aos 71 anos.
Continuo a achar o mesmo, que escrevi no final do ano passado: "O cancro devia era ouvir o piano de Sakamoto e chorar de vergonha".
Ryuichi Sakamoto está a morrer. Venceu um primeiro cancro, está a perder na luta contra o segundo. A primeira canção dele que me recordo de ter ouvido foi "Forbidden Colors". Foi na televisão, em teledisco (como, então, se dizia). Gostei, moderadamente. O cantor (David Sylvian) era demasiado parecido com os tipos dos Duran Duran. E eu estava a tentar sair dos Duran Duran. Depois, descobri que a canção era de um filme com o David Bowie. E eu estava a tentar entrar no David Bowie. Fique a meio da ponte.
Mais tarde, fui ver o filme "O Último Imperador", de Bernardo Bertolucci. Adorei o filme (é um dos filmes da minha vida) e a banda sonora. Procurei o autor. Eram dois: David Byrne (o gajo dos Talking Heads) e... Ryuichi Sakamoto (o tipo andava a perseguir-me). Ouvi o disco. Curiosamente gostei mais das composições do David Byrne, que eram mais "étnicas". As composições do Sakamoto eram mais "clássicas". E eu não gostava (nada) de música clássica. Mais, tinha medo de música clássica: a "Toccata e Fuga", do Bach, era música para filmes de terror; a sinfonia da banana, do Beethoven (aquela do "ba- na-na-naaa"), dava-me pesadelos. Mesmo assim, fui ouvindo e fui gostando, cada vez mais, do Sakamoto. Voltei atrás, para ouvir a banda sonora do tal filme com o Bowie. Era diferente, muito eletrónica. Fique baralhado, de novo.
Depois, disseram-me que ele tinha vindo de uma banda, uma espécie de Kraftwerk à japonesa. E fui ouvir outros discos. Que miscelânea! Tinha umas coisas pop muito comerciais, outras eletrónicas, outras que pareciam jazz, outras que pareciam clássica, mas com instrumentos eletrónicos. Depois, saiu uma canção com o David Bowie, que, afinal, era de um tal Iggy Pop, um imitador (pensei). E, a seguir, um disco com o tipo africano que cantava com o Peter Gabriel e vozes tradicionais japonesas e, até, uma canção em português, com um americano que tinha vivido no Brasil. Por essa altura, eu já estava completamente submerso na música de Sakamoto. Um génio: culto, criativo, curioso. Que observa, que absorve, e, depois, reescreve e arrisca. Conhece djs e experimenta a música eletrónica de dança (ele acha que os subgraves nos devolvem ao útero materno). Aproxima-se da bossa nova; lança discos de piano solo; e com pequenos ensembles; e com vastas formações orquestrais. Entra em casa de Tom Jobim, senta-se ao piano e edita um disco com o casal Morelenbaum. Um cidadão do mundo, que me abre ao mundo, continuamente.
Sakamoto é dos meus músicos e compositores preferidos. Acho que ele não iria gostar deste texto, tão cheio de passado. Ele sempre foi voltado para o futuro. Continua a ser. O cancro (sacana!) está a avançar e ele resolveu avançar também. Sentou-se ao piano e deu-nos o seu último concerto. O cancro devia era ouvir o piano de Sakamoto e chorar de vergonha.
Sakamoto explica tudo, aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=ZhzpwR19UN4
E toca piano, aqui:
Ryuichi Sakamoto está a morrer. Venceu um primeiro cancro, está a perder na luta contra o segundo. A primeira canção dele que me recordo de ter ouvido foi "Forbidden Colors". Foi na televisão, em teledisco (como, então, se dizia). Gostei, moderadamente. O cantor (David Sylvian) era demasiado parecido com os tipos dos Duran Duran. E eu estava a tentar sair dos Duran Duran. Depois, descobri que a canção era de um filme com o David Bowie. E eu estava a tentar entrar no David Bowie. Fique a meio da ponte.
Mais tarde, fui ver o filme "O Último Imperador", de Bernardo Bertolucci. Adorei o filme (é um dos filmes da minha vida) e a banda sonora. Procurei o autor. Eram dois: David Byrne (o gajo dos Talking Heads) e... Ryuichi Sakamoto (o tipo andava a perseguir-me). Ouvi o disco. Curiosamente gostei mais das composições do David Byrne, que eram mais "étnicas". As composições do Sakamoto eram mais "clássicas". E eu não gostava (nada) de música clássica. Mais, tinha medo de música clássica: a "Toccata e Fuga", do Bach, era música para filmes de terror; a sinfonia da banana, do Beethoven (aquela do "ba- na-na-naaa"), dava-me pesadelos. Mesmo assim, fui ouvindo e fui gostando, cada vez mais, do Sakamoto. Voltei atrás, para ouvir a banda sonora do tal filme com o Bowie. Era diferente, muito eletrónica. Fique baralhado, de novo.
Depois, disseram-me que ele tinha vindo de uma banda, uma espécie de Kraftwerk à japonesa. E fui ouvir outros discos. Que miscelânea! Tinha umas coisas pop muito comerciais, outras eletrónicas, outras que pareciam jazz, outras que pareciam clássica, mas com instrumentos eletrónicos. Depois, saiu uma canção com o David Bowie, que, afinal, era de um tal Iggy Pop, um imitador (pensei). E, a seguir, um disco com o tipo africano que cantava com o Peter Gabriel e vozes tradicionais japonesas e, até, uma canção em português, com um americano que tinha vivido no Brasil. Por essa altura, eu já estava completamente submerso na música de Sakamoto. Um génio: culto, criativo, curioso. Que observa, que absorve, e, depois, reescreve e arrisca. Conhece djs e experimenta a música eletrónica de dança (ele acha que os subgraves nos devolvem ao útero materno). Aproxima-se da bossa nova; lança discos de piano solo; e com pequenos ensembles; e com vastas formações orquestrais. Entra em casa de Tom Jobim, senta-se ao piano e edita um disco com o casal Morelenbaum. Um cidadão do mundo, que me abre ao mundo, continuamente.
Sakamoto é dos meus músicos e compositores preferidos. Acho que ele não iria gostar deste texto, tão cheio de passado. Ele sempre foi voltado para o futuro. Continua a ser. O cancro (sacana!) está a avançar e ele resolveu avançar também. Sentou-se ao piano e deu-nos o seu último concerto. O cancro devia era ouvir o piano de Sakamoto e chorar de vergonha.
Sakamoto explica tudo, aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=ZhzpwR19UN4
E toca piano, aqui:
"Querem ouvir a minha nova sinfoooiiiiaaa?""....""Mais altooooo!""....""Não ouço nadaaaa!"
No prefácio, Martim Sousa Tavares deixa a pergunta: "Como lhe chegou o livro às mãos"? E deixa duas respostas possíveis: porque gosta muito do autor, Haruki Murakami, ou pelo interesse que tem sobre música. Respondo por mim. Só li um livro de Murakami e (lamento!) não gostei muito. Caio, portanto, na segunda categoria: a dos que gostam de música. Mas, acrescento um terceiro motivo: gosto muito de entrevistas e de conversas. Portanto, a coisa promete. Nos próximos dias, vou ouvir dois velhinhos japoneses a falar sobre Brahms, Beethoven e Bernstein. Deve ser o "Fado, Fátima e Futebol" lá do país deles.
Esta maravilha é Património da Humanidade, há 20 anos. Que alegria, senhor Beethoven!
Para me redimir dos excessos do Natal, aderi aos produtos integrais. A integral das sinfonias de Beethoven devolveu-me a autoestima. E o meu corpo funciona lindamente.
Provas da grande maturidade democrática dos deputados anti europeus britânicos: virar as costas, durante o hino da União Europeia; dar as mãos, como as candidatas a "Miss Mundo"; agitar a bandeira, como uma "cheerleader". O Brexit é como o Hino: é uma Alegria.
[Foto REUTERS/Vincent Kessler]
Gosto de olhar para as mãos da Alondra de la Parra. Volta e meia, a maestrina pousa a batuta e deixa que as suas mãos dancem livremente. E, depois, as mãos fazem dançar o resto do corpo. Ombros, braços, anca. Boca, olhos, sobrancelhas. Alguns maestros usam a batuta como fosse uma arma, um instrumento de domínio, uma espada afiada. Alondra parece que, apenas, pede aos músicos que a levem a dançar. Pode ser Prokofiev ou Beethoven. Mas é claro que dança melhor com a música do México. Do seu México. Vejam aqui como ela dança Arturo Márquez, com a Orquestra de Paris.