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Nasci numa casa velhinha. Numa zona que, aos meus olhos de criança, era uma espécie uma aldeia gaulesa, no centro da cidade. Gostava muito "da minha alegre casinha". Tinha três pisos: o melhor era o primeiro “a contar vindo do céu". Mas tinha um problema: à semelhança do chefe dos gauleses, que temia que o céu lhe caísse na cabeça, eu temia que o teto da minha alegre casinha me caísse em cima e me aleijasse a cachimónia. De modo que, continuando a gostar da minha, comecei a olhar para as casas vizinhas, menos velhinhas, nas ruas vizinhas. Ruas com prédios de azulejo e elevador, com títulos académicos e nomes estrangeiros cheios de pinta: Rua Engenheiro Von Haffe ou Rua Engenheiro Oudinot. Havia outra rua que, não tendo nome estrangeiro, parecia estrangeira. Também tinha prédios modernos e tinha passeios grandes, para brincar, e árvores pequenas, para dar sombra, no verão, e luz, no natal. E tinha lojas modernas: uma de roupa, outra de móveis, uma galeria de arte, um self-service, um café, uma pastelaria, um cabeleireiro, uma gelataria, uma discoteca. Só lhe faltava um Centro Comercial, que, entretanto, chegou. E um arranha-céus - como na América - que, entretanto, também chegou. É certo que, afinal, não fizeram uma piscina no último andar (que pena, ia ficar mesmo fixe!). E que, afinal, aquilo já não é a rua Alberto Souto (pormenores, sem a mínima importância). Eu já tinha passado a sonhar com uma casa (um apartamento, à maneira!) na Rua Alberto Souto, que - bem vistas as coisas - nem parecia uma rua, mas duas. Um "L", que desenhava uma espécie de praceta. Para nos orientarmos, eu e os meus amigos começámos a distinguir a rua "Alberto", da rua "Souto": até à esquina, era Alberto; depois da esquina, era "Souto". Mas não resultava, porque dependia do ponto de partida: "de quem vem da Avenida?" ou "de quem vai da Oudinot?". Dava sempre risada, entre nós. Mais tarde (muito mais tarde), fiquei a saber quem era o senhor que dera nome à(s) rua(s). E, entretanto, apareceu outro Alberto, com o mesmo nome de família, a querer ser presidente. E foi. E quer voltar a ser. Mas, agora, há outro que, não tendo o nome da primeira rua, tem o nome da segunda: Souto.
A vida de Egas Moniz dava um filme? Dava. E deu: um filme, um livro, um Nobel, e, até, uma opereta que ele próprio escreveu. Chamou-lhe "A Nossa Aldeia".
Para ouvir, aqui:
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/estreia-se-nova-versao-de-a-nossa-aldeia_a1618257
- E viste a Nessie?
- Onde? Na Barrinha de Esmoriz?!
Bom dia, para todos. Todos, todos. Mesmo para aqueles que dizem "Nánadia".