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O que é que aconteceu ao carro do Fernando? Um SUV: todo inchado, todo jeitoso. O Fernando também andava todo inchado, com o SUV. Bem bonito, por sinal. A arrancar dores, aos cotovelos, e espanto, às sobrancelhas. O SUV era o corolário de uma vida de trabalho e de empenho. Brinquei com ele: "Estás a SUVir na vida!" Sorriu, orgulhoso. Conheci o Fernando, andava, ele, num carrito italiano amachucado, que herdara do pai. Mais tarde, o Fernando conseguiu comprar uma carrinha, com espaço para albergar as três crianças que, entretanto, lhe foram florescendo. O Fernando deve ter tido mais carros, mas estive vários anos sem o ver e, quando o reencontrei, tinha acabado de comprar o SUV.
Pergunto ao Fernando, que passa, notícias do SUV. O Fernando, do SUV, teve um AVC. A sigla é menos jeitosa, é certo. Mas ele, aparentemente, está mais jeitoso. Dizem-lhe que está mais novo, que está mais leve, desde que deixou o SUV, pesadão, na garagem. Vejo, agora, o Fernando, a seguir caminho, rua abaixo, de mochila às costas. Também acho que nunca o tinha visto tão novo, nem tão inchado.
Vinha a uns 200 km/h: um carro, elétrico, de grande potência e vários milhares de euros. Primeiro, estranhei. Pareceu-me um comportamento a contradizer a ideia de proteção do ambiente. Depois, percebi. Vinha a 200, por causa da emergência climática.
Estava eu a preparar-me para ultrapassar um camião, na autoestrada, quando este resolve passar para a faixa da esquerda. Percebo que tenta ultrapassar outro camião. Reduzo a velocidade, enquanto sopro para as narinas. O camião à minha frente leva materiais de construção, o da direita leva uns automóveis franceses bem bonitos. Vai atrás de um terceiro camião, que leva galinhas e pintainhos. O camião à minha frente não consegue ganhar velocidade, para ultrapassar os outros dois e encostar. Mantenho-me atrás dele, enquanto se forma uma fila de carros atrás de mim. Olho para o camião ao meu lado - o que leva os automóveis - e faço um gesto de apreciação com o polegar para o motorista, que me responde esfregando o polegar e o dedo médio - como que diz "quer comprar?" Digo que sim, com a cabeça, e ele responde fingindo que assina o contrato de compra e venda. Volto a dizer que sim com o polegar, mas, entretanto, o camião que levava as galinhas entra para a área de serviço e o camião à minha frente consegue, finalmente, encostar. Faço um gesto ao motorista que leva o camião com os automóveis, a pedir desculpa, apontando para a fila de carros atrás de mim. O senhor acena, compreendendo a situação. O negócio foi com os pitos.
"Ai, isto da pandemia ensinou-nos que temos que mudar o chip e tal". Não mudem de chip, filhos. Só se for mesmo necessário. Não mudem, porque anda aí uma crise de chips danada. E os chips são indispensáveis aos setores do automóvel e da eletrónica. Precisamos de chips. Não precisamos de mais uma crise. Quem te avisa, teu amigo é!
Sempre que possível, ande a pé. Evite engarrafamentos.
O meu primo tem um carro igual ao do senhor ministro. Perguntei-lhe se o tinha comprado, ou se... Reagiu mal e começou a insultar-me. Tive que lhe pedir desculpa e tudo! Mas, acho que apreendi a lição. Sim, apreendi.
Cuidado com as vendas ao postigo! Podem ser perigosas! Esta manhã, fui tomar um café ao postigo. Soube-me tão bem, que a seguir comprei uma mala de viagem, para usar sabe-se lá quando, e uns sapatos a bom preço. Depois, cheguei a casa e descobri que não calçava 45. Voltei à rua, para trocar os sapatos, mas regressei a casa com um carro alemão. É bem bonito (todo desportivo e tal!) mas não tenho dinheiro para o pagar. Percebem, agora, a minha chamada de atenção?
A Autoeuropa é um centro de inovação nacional. É de lá que saem monovolumes espaçosos, suvs irreverentes e, agora, candidaturas presidenciais. Sob um teto alemão, Portugal reinventa-se.
[Foto: José Sena Goulão / Lusa]
Para nós também era uma prova dura. Convencer o pai. Encher a Renault 12, com amigos, comida, bebida e cobertores. Fazer uma direta. Procurar um sítio para estacionar o carro e outro para estacionamo-nos. Ver o sol nascer na serra, enrolados em cobertores. Aquecer à volta de uma fogueira. Cantar “os meninos à volta da fogueira”, a rir e a esfregar as mãos. Ouvir os motores, levantar de repente e ver os carros a passar por nós, a levantar pó, a desaparecer, a serpentear, lá longe, pela serra.
Depois a desilusão de sempre. Vê-se melhor em casa: com câmaras, imagens editadas, repórteres e comentadores. Mas a televisão não tem o cheiro a escape, os “rateres", a emoção. Muito menos os cânticos, as conversas, a chouriça na brasa. E, por isso, voltávamos no ano seguinte
O Rally de Portugal era uma festa. Era a coisa mais parecida com um festival de rock. Só o soube mais tarde, quando a moda dos festivais chegou a Portugal. Voltei a sentir a mesma excitação, a mesma alegria, o mesmo cansaço.
Olhei para a Manuel Azevedo, no palco. Pareceu-me ver a Michèle Mouton.
PS: Lamentavelmente, um incêndio em Ponte de Lima perturbou hoje o Rally de Portugal, mas, pior ainda, a vida das pessoas daquela região.