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O ego de “Eu Saraiva” é enorme. Pesa mais do que o Expresso. Muito mais do que o Sol: o jornal, claro. Mas, talvez “Eu Saraiva” não rejeite a comparação com o próprio sol. A última edição do Sol tem “Eu Saraiva” na capa e uma entrevista de 11 páginas a “Eu Saraiva”. Mas, “Eu Saraiva” acha que a entrevista não chega e escreve mais umas centenas de caracteres sobre o livro que tem dado que falar.
“Eu Saraiva” queixa-se que os críticos não leram o livro e dos que dizem que nem sequer vão ler o seu livro. Sabendo isso, resolve falar das suas motivações para escrever o livro: “relacionei-me com quase todos os políticos”; “acumulei um património único”. E, de seguida, faz uma crítica, isenta e distanciada, ao seu próprio livro: “Este livro abriu um tempo novo”; “Na literatura há um antes e um depois dele”; “Inaugura um género que ninguém cultivara”; “Vai ficar como um clássico da literatura”. E conclui: “Ainda bem que tive coragem de o escrever”.
“Eu Saraiva” faz lembrar os cantores pimba que fazem trocadilhos brejeiros e depois dizem que a culpa é nossa, que temos uma mente perversa. O livro de “Eu Saraiva” tem uma fechadura na capa e um aviso:“O livro proibido”. E fala de sexo, mas só o estritamente necessário. E, apesar de saber, de antemão, que é um clássico, “Eu Saraiva” quer que o livro passe despercebido. Está quase a conseguir.
Já não há Sol na eira. Só chuva no nabal. Os jornais “Sol” e “i” estão à beira da morte. O grupo angolano Newshold desistiu dos dois jornais. Ambos têm problemas graves, desde o seu nascimento. O “i” nasceu com Martim Avillez Figueiredo (agora no grupo de Balsemão), André Macedo (actual diretor do DN) e o (agora famoso) Grupo Lena. Ao fim de um ano, os proprietários e a direcção do jornal estavam em conflito. Depois, o "i" andou de mão em mão. Agora, chegou aqui. O “Sol” foi mais um jornal fundado (por um ex-diretor) com o objectivo de vender mais do que o Expresso (como o Semanário e o Independente). Os resultados estão à vista.
Espanta-me, pois, ler alguns comentários online: “não prestam”, “já vão tarde”, “não fazem falta”, etc. Os jornais fazem falta. São essenciais à democracia. São fonte de informação, de conhecimento, de entretenimento. Mas, para muitos, nada disso interessa. Nem os mais de cem trabalhadores que vão para a rua. Se ficarem alguns, vão ficar em condições ainda mais precárias.
E, depois, os jornais vão ficar piores. E, depois, dizemos que não prestam. E, com isto, não percebemos que perdemos todos.