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"Quando for grande", pensei, "vou-me casar ao som do 'Love Theme', do Barry White". Foi, mais ou menos, isso que aconteceu. A música não foi no momento programado na minha cabeça, mas ouviu-se. O casamento fez-se e manteve-se. Mantém-se, felizmente. Faltava, apenas, o disco original, que comprei passado uns anos, em segunda mão. A data da edição é mais próxima do meu nascimento, do que de meu casamento, e é descuidada (coitadinha). Na contracapa, tem a ficha técnica em português. Na capa, exibe, em letras estilizadas, "Arreglos e Direccion: Barry White". Escapa, à primeira vista. Ganha graça, à segunda. Barry, a piscar o olho a Gershwin no título "Rhapsody in White". Barry, o maestro negro com sobrenome branco. Barry, a dirigir uma orquestra chamada "Love Unlimited". Barry e o amor. Sempre o grande tema.
O amor tem altos e baixos. Às vezes, dou por mim arrebatado, inebriado, embevecido. Outras vezes, recuo e vacilo. Lamento-lhe a pobreza, a decadência, o desleixo. Nessa altura, dá-me para ouvir esta música. "Morro de amor", diz o primeiro verso do "Fado Moliceiro", que faz renascer a minha paixão. Hoje é dia de festa e de amor. Na minha terra. Pela minha terra.
[O Fado Moliceiro junta três génios: Ary dos Santos, Carlos do Carmo e Carlos Paredes]
É dia dos namorados. Mas, por favor, não se ponham para aí a dizer que gostam de ouvir baladas do Phil Collins. Porque é meloso. Porque é piroso. Façam como eu. Ouçam-nas, mas não digam a ninguém.
- Parabéns, D. Rosa, já sei que fez anos de casada!
- É verdade!
- E, então, como é que comemoraram?
- Ah, foi maravilhoso. O Armando trouxe-me um ramo de rosas vermelhas...
- Oh, rosas para uma Rosa!
- ... foi o que ele disse, e depois fomos jantar fora...
- Que bem!
- ... eu levei um vestido vermelho, ele uma gravata da mesma cor... depois, levou-me a dançar...
- Sim, senhor!
- É, eu adoro danças latinas.
- Bem, esse senhor Armando é um romântico!
- Acha?! Foi um dia igual aos outros.
- Ahhh...
- Não me diga que acreditou, que o Armando me levou a dançar?
Acreditei, por um Shegundo, confesso que acreditei. Teria sido bonito, para terminar o ano.
Melhor que uma cabana. Amor e uma cadeira.
Somos uma família de gente pirosa. Felizmente.
"A imagem não importa". "A verdadeira beleza da mulher está no interior". "Não ligo ao físico, eu quero é um homem que me faça rir". Tretas. Com esta trunfa, se eu soubesse o que sei hoje, tinha casado com uma cabeleireira.
Em 1992, David Sylvian era um nome incontornável da música pop. Nesse ano, entrou do disco "Heartbeat", do amigo japonês Ryuichi Sakamoto. Durante a gravação, conheceu uma morena linda de morrer. Apaixonaram-se e, mais tarde, casaram-se e tiveram filhos. Enfim, um conto de fadas. Tirando a estrela pop e o chinocas, parece a história da minha vida.