Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Fernando Tordo anda a cantar "Adeus tristeza", há mais de 35 anos. É uma das canções tristes, mais tristes que eu conheço. Arrepiava-me ao ouvi-la na rádio (ainda me arrepia). Arrepiava-me ao ver Fernando Tordo a cantar "a tristeza" ao vivo, encharcado em suor, num espetáculo da Aula Magna transmitido na RTP. A intensidade da música e da interpretação faziam de Tordo uma espécie de Brel: um pouco mais gordo, um pouco mais luso. "Adeus tristeza", cantava num quase grito, mas a tristeza teimava em ficar. Até agora. Fernando acaba de regressar à canção, num dueto com Héber Marques, dos HMB. E a tristeza disse "Adeus", pela primeira vez. Lindo.
O comentador Marcelo regressou à análise política. Foi ontem, à noite, na TVI. Marcelo analisou, com distanciamento, os três anos de mandato presidencial. Comentou a queda da popularidade, acima dos 80%, do Presidente. Comentou vetos e recomendações do Presidente. Comentou a forma como o Presidente esteve bem melhor do que o governo, nos incêndios de 2017. E, até, comentou a convicção de Miguel Sousa Tavares de que ele (Marcelo) será candidato à Presidência. E, no fim, o comentador Marcelo, foi comentado pelo comentador Miguel, que antes lhe estivera a pedir comentários.
Querida Theresa,
Como eu a compreendo. Uma vez, há muitos anos, liderei um processo parecido com o seu. Foi uma viagem de finalistas. Combinámos o destino e tentámos marcar a viagem numa agência - uma Euro-qualquer coisa, como se usava na altura. Quando tudo parecia decidido, houve quem não gostasse do preço e desistisse. Com essas desistências, a viagem ficou mais cara e outros desistiram a seguir. Tentei outros destinos, o que agradou a uns, mas levou a novas desistências. E os preços voltaram a subir. A última marcação veio com ultimato: "ou isto ou nada". Acabámos, uns poucos resistentes, exilados na Madeira, como o seu compatriota Churchill. Se precisar de mim, disponha. Boa sorte lá com os seus colegas e com a sua euro-agência.
Há, por aí, um certo jornalismo que anda desassossegado. Diz este jornalismo, que o restante jornalismo e os seus comentadores só vêem para um lado. Não há, dizem os desassossegados, quem defenda líderes como Trump, Le Pen, Orbán ou Bolsonaro. Queixam-se do "mainstream", do politicamente correto, do esquerdismo dos media. Estes defensores do pluralismo consideram que para se discutir questões étnicas, tem de se arranjar um racista; para discutir questões de género, tem de haver um marialva; para discutir democracia, tem de haver um fascista. Esquecem, ou fingem esquecer, que os fascistas são contra a tolerância e o pluralismo que alegam defender.
Enquanto isso, um presidente insulta e manda retirar as credenciais a um jornalista. Não devíamos estranhar. Acabámos de ver um presidente ser eleito nas redes sociais, contra os media. E, em Portugal, políticos desassossegados chamam os jornalistas para uma declaração "sem direito a perguntas". Onde é que está, afinal, a falta de contraditório? Onde deve estar, afinal, o desassossego?
Este texto andava perdido... nos arquivos da minha computadeira. Hoje, no dia em que Tchaikovsky morreu, retirei o verbete para publicação. Não vale a pena fazer RIP (já foi há 125 anos). Mas vale a pena ouvir a música de Tchaikovsky. Acho eu....
"Só não tenho paciência para as 'pimbalhices' do Tchaikovsky", disse o meu amigo. Ele vive numa dessas casas com "Sopa e gravatas e tudo", como dizia Solnado. E "tudo", neste caso, implica ter lugar cativo no São Carlos e na Gulbenkian. Ora eu que, dos luxos descritos só tenho a sopa, não percebi. De resto, demorei anos a perceber. Foi Jeremy Siepmann quem me explicou, depois de lhe comprar um livro sobre Tchaikovsky. Siepmann (músico, professor, divulgador) confessa que chegou tarde a Tchaikovsky, por snobismo. Para muita gente (como ele próprio) educada na escola musical germânica, Tchaikovsky é Hollywood. Ainda bem, digo eu. Devemos a Tchaikovsky alguma da melhor música escrita para cinema. E devemos a Hollywood a distribuição, à populaça, de alguma da melhor música da história.
Tchaikovsky invejava a forma como os italianos esbatiam as fronteiras entre a musica popular e erudita. Tentou fazer o mesmo e foi bem sucedido. Obras como o "Quebra-Nozes" e o "Lago dos Cisnes", ou as aberturas "1812" e "Romeu e Julieta" são incrivelmente populares. As suas sinfonias influenciaram Shostakovitch e Mahler. Mas também Bernstein e John Williams. Mas isso, (lá está!) é Hollywood e as sua "pimbalhices".
Deus não dorme. O homem sim. E ao domingo - dia que o homem dedica a Deus - o homem dorme um pouco mais. E, depois, chega tarde à casa do Senhor. E, como não quer fazer esperar quem não dorme, o homem deixa o carro onde calha: em cima do passeio, da passadeira, na rotunda, na paragem do autocarro, no lugar para pessoas com deficiência.
Para celebrar o Dia da Obesidade fui à minha pastelaria favorita. A maior concentração de açúcar não veio, no entanto, da vitrina. Veio das colunas de som. Ele era o Peter Cetera a cantar o "Karate Kid", a Celine Dion a cantar o "Titanic", os Berlin a cantar o "Top Gun". Saí de lá mais gordo. Mas, não me venham dizer que a culpa foi do éclair de chantili. Para mim, foi do "Still loving you"...
Depois das televisões, a imprensa portuguesa quer-se afirmar no mercado das séries. Já saíram dois episódios no "i". O terceiro episódio sai no sábado, no Sol. Aparentemente, é uma entrevista em fascículos. Só que o personagem principal torna aquilo numa novela. Chama-se Tomás. Mas Tomás é nome de beto. Chamemos-lhe Toni. Mantém a aliteração do "T" e adapta-se o nome ao discurso do personagem. Ele diz coisas como "sei mais do que estes gajos todos juntos" ou "se o estádio do Braga é bonito, a Madre Teresa de Calcutá é a miss mundo". Não se sabe se estas afirmações foram feitas com um palito nos dentes. Mas, no caso de se avançar para a novela, aconselha-se o adereço.
Toni é uma mistura de arquiteto, com gajo de alfama e capitão de Abril. Gosta de dizer "gajo" e "malta". Faz preceder qualquer nome pelo artigo definido: "o Costa", "o Salazar", "o Sócrates", "o Siza". Por exemplo: "o Siza só ganhou o Pritzker porque é judeu" ou, ainda, "o Souto Moura nem sequer é arquiteto". O Toni é um ponto. O estádio do Dragão só é bom porque o Toni pôs um holandês a trabalhar com o Manuel Salgado. O estádio da Luz só é bom porque foi feito sobre um projeto do Toni.
Achei o segundo episódio mais fraquinho. Mas o terceiro deve ser muito bom: com "gajas boas" e tudo, como nas novelas. Aguarda-se, portanto, o terceiro episódio do homem que fez "o último ícone de Lisboa". Por mim, já escolhi a música do genérico. É do Tony, este com "Y": "Depois de ti mais nada".
É um país da América Latina. Ora dominado pelo capital dos estrangeiros, que se instalam no país para trabalhar e enriquecer. Ora dominado pelos movimentos de libertação nacional, que se revoltam contra a miséria do povo e tomam o poder. Uns contra os outros, uns atrás dos outros. Nem uns, nem outros, hesitam em recorrer à violência, para impor o seu domínio numa sucessão de ditaduras. Nem uns, nem outros, hesitam em agitar a defesa do bem comum, em benefício próprio.
Joseph Conrad, um polaco que se aventurou nos mares para descobrir o mundo inteiro, transformou-se num escritor britânico lido no mundo inteiro. Escritor brilhante, observador atento, pessimista e provocador. Em “Nostromo”, Conrad inventou um país chamado Costaguana. Mas é evidente que este país é baseado numa história verídica. Uma história que se repete: no mesmo país, noutros países semelhantes. Uma história que se repete, até aos dias de hoje. Como prova o dia de hoje.