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Ter dois amigos ou familiares, que não se gostam, na sala de estar, é das coisas mais embaraçosas que existem. Tendencialmente, achamos que, se a pessoa A gosta de nós e a pessoa B também, elas devem-se gostar entre si. Infelizmente, descobrimos que, muitas vezes, não é assim. E passamos a ter que convidar um ou outro, alternadamente. Passa-se o mesmo, com os nossos heróis.
No livro "Verdade tropical", Caetano Veloso escreve acerca da surpresa que teve, ao descobrir que o seu herói, João Gilberto, não gostava de Chet Baker. Confesso que também fiquei surpreendido. E, mais ainda, ao descobrir, no mesmo livro, que o meu herói, Caetano, não gostava de David Bowie. Não dá a entender, diz, preto no branco, que não gosta. Sem se importar com os meus sentimentos. Bowie também é o meu herói (com Caetano e Godinho, compõe, talvez, a minha "Santíssima Trindade"). Bowie faria, hoje, 75 anos. Hoje, vou juntá-lo, na minha sala, com Caetano. Pode ser que resulte. Nem que seja "Just for one day". Veremos.
Tenho uma relação especial com este disco, de Sérgio Godinho. "Na vida real" saiu em 1986, numa altura em que eu fervilhava de entusiasmo com a chegada de mais um Rali de Portugal. A disputa entre a Audi e a Lancia foi interrompida, no entanto, pela minha professora de português, que resolveu marcar um teste na véspera e me deixou apeado. Fique sem direito a pó, a direta, a chouriça na brasa, a fogueira, ao nascer do sol na serra. Na altura, o Rali de Portugal era a experiência mais próxima de um festival de verão. Para compensar a minha retenção no cais de embarque, o meu pai ofereceu-me o (então) novo disco de Godinho. Decorei-o de ponta a ponta. Cantei-o ao vivo, pouco tempo depois, na segunda fila do Teatro Aveirense. Perdi o Rali, mas guardei o Sérgio - que continua aí para as curvas. Hoje, faz 75 anos. Parabéns mestre, ainda vamos celebrar as bodas de ouro!