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"Guerra" é a Palavra do Ano, de 2022. Numa altura de abundância de palavras (ditas, escritas, gritadas, escarrapachadas), em que se usa e abusa das palavras, escolher uma palavra - uma só - por ano, soa a tarefa hercúlea. Quando a iniciativa da Porto Editora começou, perguntei-me se fazia sentido elaborar um "top" de palavras, submetê-las a votação e eleger uma só palavra. Porque a escolha pode refletir, apenas, a espuma dos dias. Mas, também é verdade que pode servir de barómetro, que ajuda a perceber os assuntos que mais preocupam os portugueses. No ano de 2022, marcado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, a palavra escolhida foi "guerra". As palavras relacionadas com a Covid-19, que tinham dominado os dois últimos anos (no ano passado foi "vacina"), desapareceram. Se passarmos por 2017, ano dos grandes incêndios, a palavra do ano foi, precisamente, "incêndios". Em 2011, o ano da chegada da troika, a palavra escolhida foi "austeridade". Uma palavra - uma só - pode dizer muitas coisas. Pode dizer muito.
"Entrámos no último dia útil de 2022", diz-me a minha rádio, logo pela manhã. "Útil"? É capaz de ser exagero!
Hoje, o grande objetivo de Portugal é chegar aos quartos.
O meu também. E o dia mal começou.
Força Portugal!
Força eu
Deve ser por causa do mundial e coiso, mas está-me a apetecer ler coisas sobre "o mais" isto e aquilo. É altura de "rankings", dos "mais" do mundo: o "mais caro", o "mais rápido", o "mais famoso". Neste caso, optei por o "mais rico". Não sei se é por causa dos relvados - lá da casa dele, em Lisboa - mas, sempre fui "à bola" com o senhor Calouste.
Estava eu a preparar-me para ultrapassar um camião, na autoestrada, quando este resolve passar para a faixa da esquerda. Percebo que tenta ultrapassar outro camião. Reduzo a velocidade, enquanto sopro para as narinas. O camião à minha frente leva materiais de construção, o da direita leva uns automóveis franceses bem bonitos. Vai atrás de um terceiro camião, que leva galinhas e pintainhos. O camião à minha frente não consegue ganhar velocidade, para ultrapassar os outros dois e encostar. Mantenho-me atrás dele, enquanto se forma uma fila de carros atrás de mim. Olho para o camião ao meu lado - o que leva os automóveis - e faço um gesto de apreciação com o polegar para o motorista, que me responde esfregando o polegar e o dedo médio - como que diz "quer comprar?" Digo que sim, com a cabeça, e ele responde fingindo que assina o contrato de compra e venda. Volto a dizer que sim com o polegar, mas, entretanto, o camião que levava as galinhas entra para a área de serviço e o camião à minha frente consegue, finalmente, encostar. Faço um gesto ao motorista que leva o camião com os automóveis, a pedir desculpa, apontando para a fila de carros atrás de mim. O senhor acena, compreendendo a situação. O negócio foi com os pitos.
Ontem, à noite, a Angela apareceu lá em casa. Assim, sem avisar. A fazer olhinhos. (E que lindos olhos ela tem!) Oh, Angela (como é que eu hei de dizer isto?)! Oh, Angela! Eu... eu... sou um homem casado!
É dia dos namorados. Mas, por favor, não se ponham para aí a dizer que gostam de ouvir baladas do Phil Collins. Porque é meloso. Porque é piroso. Façam como eu. Ouçam-nas, mas não digam a ninguém.
Humorista, Ricardo Araújo Pereira gosta de fazer rir as pessoas, sem lhes tocar. O humor, defende, deve ter a capacidade de provocar uma reação física involuntária, usando, apenas, palavras. Na rádio, usamos muitas referências visuais. Dizemos "pintar uma reportagem", "tirar retratos", "fazer o filme", "levar ao local". A rádio cria imagens. É os olhos do ouvinte. A televisão também faz isso? Claro que sim, mas usa imagens. Que é como fazer rir, fazendo cócegas.
"Eu vou botar um pouquinho de sotaque, um pouquinho só", disse Vinicius de Moraes, antes de oferecer, a Amália, o fado "Saudade do Brasil em Portugal". Foi registado, em 1970, num disco conjunto. Passaram mais de 50 anos, e Caetano (um eterno apaixonado por Amália e pelo fado) repete a gracinha. Bota um sotaque para cantar "Você-Você", com a maravilhosa Carminho - que já cantou o tema de Vinicius e está habituada a cantar com os deuses. A canção está aqui, com um vídeo a registar o momento, mas o disco "Meu coco" merece ser ouvido, de fio a pavio. Começa por nos cantar que "O português é um negro dentre as eurolínguas", para (espero não estar a dar com a língua nos dentes) nos levar aos mais variados "brasis", até desembarcar em "Você-você". Não é, no entanto, o fim da viagem. Depois de um "quase fado", com o bandolim a fazer de guitarra portuguesa, chega a certeza de que "Sem samba não dá". A chegar aos 80 anos, o mais jovem de todos nós, dá-nos um "best off" de inéditos: intemporal e contemporâneo, ousado e familiar. Caetano dá-nos uma obra prima. A obra prima do mano. O mano Caetano.