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- Estavas a falar de um disco chamado "Bach in Brazil"...
- Sim...
- Isso não existe, pois não?
- Existe, pois, tenho o disco e tudo!
- "Bach in Brazil"?! Qualquer dia, fazem um "Bach in Africa"!
- Já fizeram. E um "Mozart in Egypt"... Há de tudo...
- Como na farmácia?
- Não. Infelizmente, na farmácia não há música.
- Afinal, o que é isso das "raves"? - perguntou-me o Joaquim.
- São festas com música de dança, noite fora.
- Música de dança, como? Danças de salão? Disco? Samba?
- Basicamente, música eletrónica: house, techno.
- Então, é uma noite de discoteca normal.
- Acaba por ser. Mas, muitas vezes, as "raves" são feitas em sítios diferentes.
- Tipo…
- Zonas industriais, monumentos, praias...
- Ah. E depois, ficam na praia?
- Não, depois as pessoas estão estoiradas e vão para casa dormir.
- Que pena. Quando eu vivia em Angola, também fazíamos festas para dançar a noite toda.
- A sério?
- É. Eu e os meus amigos pretos das cubatas. Depois, íamos comprar pão e ficávamos na praia, a dormir.
O Joaquim viveu em Angola, até 1975. África está-lhe entranhada na pele. De tal forma que, apesar de ser branco, muita gente chama-lhe "preto": o "Quim Preto". Lembrei-me dele, porque fui a uma festa, num teatro, que parecia uma "rave". Parecia, mas não foi. Porque acabou, ao fim de hora e meia. Enfim, coisas de Branko.
Há poeira no ar. O IPMA diz que é do deserto do Norte de África.
A sério? No Carnaval? Para mim, não há coincidências!
A poeiraaahaaa... é por causa da Ivete Sangalo.
- Lisboa tem tanto "nego", "Migueu"!
- Pois tem. Está surpreendida?
- Eu "istou", nunca tinha visto tanto "nego", não!
- Mas, no Brasil há muitas pessoas negras.
- Na Bahia, no Rio, em São Paulo, sim. Em Campo Grande, não.
- Não sabia.
- E vem de onde?
- Quem, eu?
- Não, esse "nêgo" todo...
- Alguns, vêm. Mas, muitos já nasceram aqui.
- ... vem de África, "né"?
- E do Brasil, também.
- A gente acaba se acostumando, "né"?
- É. Vai ver que sim.
Luci vira as suas costas, brancas. Afasta o seu cabelo oxigenado e a minha imagem do Brasil: mestiço, moderno e cosmopolita.
"Ai, a gente já não pode ouvir falar da guerra!" A Dona Madalena leva a mão direita ao coração. Na esquerda, leva o saco das compras. "Só de pensar naquela gente toda a sofrer." Faço que sim, com a cabeça. "Já viu, havia de nos calhar isto, depois da pandemia". Ainda abro a boca para dizer "Depois da pandemia, que é como que diz". Na verdade, os números da Covid estão a subir, só que se fala menos do assunto. E a Síria não está melhor. Nem o Iémen, nem o Afeganistão, nem o norte de Moçambique. A crise climática continua e os plásticos continuam a acumular-se nos oceanos. A fome não acabou em África. É, por isso, que cada Miss Mundo, continua a desejar a paz e a dizer que não gosta da inveja e da mentira. Podia ter dito isto tudo à Dona Madalena, mas o peso que carrega no peito e no saco das compras já me parece demasiado.
Abdulrazak Gurnah ganhou o Nobel da literatura. Subitamente, a internet encheu-se de imagens de Kofi Annan. Não percebi porquê. Ou então... Ei, espera aí...
A Dinamarca prepara-se para oferecer as vacinas da AstraZeneca aos países pobres. Querem fazer um dois em um: evitar tromboses e mostrar que têm bom coração. Lembrei-me duma canção de José Barata-Moura tão atual, que lembra a solidariedade mais antiga do mundo: a caridadezinha.
Cabo Delgado tem estado longe das "gordas" dos jornais, da rádio e da televisão. Este trabalho, do enviado especial da Antena 1, Nuno Amaral, é uma ajuda importante para quebrar um silêncio que incomoda. A rádio - aquela que interessa e que importa - está aqui e agora, sempre; e no fim do mundo, quando é preciso. Ao fim e ao cabo, a rádio está onde deve estar: Cabo Delgado.
Pode ouvir aqui:
https://www.rtp.pt/noticias/mundo/cabo-delgado-numero-de-deslocados-continua-a-aumentar_a1300813