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Revolução

por Miguel Bastos, em 12.09.24

a revolução.jpg 

Não abundam, os livros sobre música portuguesa. Rareiam, os que são realmente bons. É o caso deste: "A Revolução antes da Revolução", de Luís de Freitas Branco. Gostei, de imediato, do título e do conceito revelado. Já sabíamos que o 25 de Abril tinha sido lançado por uma canção - "E depois do Adeus", de Paulo de Carvalho - e confirmado por outra - "Grândola, Vila Morena", de José Afonso. Mas o autor vai mais longe: antes da revolução, propriamente dita, Portugal já tinha um vasto cancioneiro para a revolução.
 
Esse cancioneiro agrupa compositores, letristas e intérpretes. Agrupa, sim, mas também os divide. E não é, apenas, a divisão entre os jovens do rock e os velhos da canção romântica, ou dos baladeiros a desprezar, com igual intensidade, o "nacional-cançonetismo" e o rock "americanado". A divisão existiu, entre aqueles que achamos serem as "vozes de Abril": com José Mário Branco a recusar produzir um disco de "lamechices" de Adriano Correia de Oliveira; com Adriano a questionar as canções banais dos baladeiros; com Carlos do Carmo a duvidar da qualidade de interpretação de José Mário Branco; com Fernando Tordo a perguntar se Sérgio Godinho saberá o que é uma orquestração. Como se esta divisão, antes da Revolução, antecipasse a divisão, depois da Revolução.
 
Luís de Freitas Branco escolheu o ano de 1971, como o ano mais representativo desta "Revolução antes da Revolução". Afinal, foi o ano de "Cantigas do Maio", de José Afonso; de "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades", de José Mário Branco e de "Os Sobreviventes", de Sérgio Godinho. Uma colheita "vintage". Foi ano de Ary dos Santos, no Festival da Canção; de Miles Davis, no Festival de Jazz de Cascais; de Elton John, no Festival de Vilar de Mouros. Um ano, em livro, dividido em 12 meses e 12 capítulos. Com Luís de Freitas Branco a definir os andamentos desta espécie de sinfonia de música popular: diversa, policromática, minuciosa, revolucionária. Bravo!

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5 comentários

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Anónimo a 17.09.2024

Na minha modesta opinião,  a revolução havida antes da revolução do 25 de Abril remonta a 1969. A minha irmã mais velha, ao tempo estudante na Universidade de Coimbra, nesse ano foi impedida de votar pelos esbirros do sistema. Esse ano de 1969 considero-o eu como o incendiar do rastilho que trouxe à revolução antes da revolução esses bravos da nossa cultura e da nossa democracia. Por causa do ocorrido no ano de 1969, a nível estudantil, em 1972 o marido da minha irmã foi impedido de seguir a magistratura judicial, pelo simples facto de ter sido elemento, activo obviamente, da AAC. Era ministro da justiça um tal Mário Júlio Brito de Almeida Costa, um indefectível fascista de "respeito". Já agora, só para animar os espíritos, o mais belo cancioneiro desses tempos foi o Cancioneiro do Niassa, uma obra prima dos milicianos "à força" que, como eu, andaram por essa província de Moçambique e porquê. Porque, quer se queira quer não, "a aventura é ficar". Alves Redol.
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Miguel Bastos a 17.09.2024

Obrigado pela sua opinião.  Não lhe chamaria era "modesta"  Obrigado 

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