por Miguel Bastos, em 07.03.23
Esta semana, Salvador Sobral vai cantar, pela primeira vez, no Brasil. Caetano Veloso atira: “Para mim, [é] um dos maiores cantores que existem. Salvador Sobral, lisboeta do mundo". Em cheio.
Há uns anos, num programa de rádio, falava-se no tratamento desigual que, alegadamente, portugueses e brasileiros davam aos artistas do país irmão: os brasileiros, sempre bem recebidos em Portugal; os portugueses, ignorados no Brasil. Tendo a dar alguma razão ao argumento: nós ouvimos o Caetano, eles ignoram o Godinho. Mas, depois, fui assaltado pelos contra-argumentos do convidado brasileiro: o Brasil é muito grande, tem uma grande riqueza musical e grande parte dessa música não chega a Portugal. Quem chega, então? Os grandes da MPB (como Caetano, que vai regressar em Setembro), a bossa nova, a música de má qualidade ("o nosso pimba", dizia o senhor brasileiro). "Repare", dizia, "o Caetano vem a Portugal, porque é um cantor do mundo inteiro. Ele está a meio de uma digressão europeia, volta a casa e segue para o Japão". Caetano é do Brasil, sim, mas do mundo, também. O mundo - que Caetano atribui, agora, a Salvador.
Temos artistas do mundo e nem sempre nos apercebemos disso. Nem, mesmo, no caso mais flagrante: Amália. Amália não foi a maior cantora portuguesa: foi/é das melhores cantoras do mundo. Portuguesa, sim, mas do mundo. Carlos do Carmo foi/é dos maiores cantores do mundo. Mesmo que grande parte do mundo não saiba (falem com mundo, por favor). E temos, vários, casos atuais. Salvador, se ainda não for do mundo, está lá perto. Caetano diz que já é. Veloso é generoso.