O meu irmão tinha lido o seu primeiro livro de "Os cinco". Eu ainda não, porque era analfabeto. Portanto, comecei pela prática. Brincávamos aos "Cinco", a partir da história que o meu irmão tinha lido e dos títulos que repousavam na estante. Uma das razões que me levavam a querer ler, o mais depressa possível, era conseguir mergulhar num mundo habitado de contrabandistas, casas abandonadas ou paisagens misteriosas. Depois, descobrimos coisas boas, como os lanches e as lanternas, e coisas más, como os colégios internos. Porém, antes de eu chegar aos livros, a série chegou à televisão.
- Leste bem o livro?
- Porquê?
- Acho que o "Zé" é uma rapariga.
- Então, passo a ser o Júlio.
- Não, não. Eu já era o Júlio.
- Mas deixas de ser, porque eu sou o mais velho.
Tantos sentimentos contraditórios, dentro de mim: o fascínio pelas história de "Os Cinco"; a injustiça de ser o mais novo; o desejo de vingança.
- Então, já não queres ser o "Zé"?
Ou
- Sabem, o meu irmão pensava que a Zé era um rapaz.
Para além da aventura e da leitura, "Os Cinco" foram, também, uma primeira introdução às questões de género.