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Passei, agora, pelo Tio. Foi no telemóvel. O Tio deixou-nos, há poucos meses. Foi levado pela Covid. Quando o visitei, estava meio constipado. Mas não, não era uma constipação. Já não vendia saúde (é certo) mas, ainda, não estava doente (tinha, apenas, doenças - quem as não tem?). Claro que já não era o Tio que pegava o carro e, a caminho dos 90 anos, fazia um caminho de 250 quilómetros. Já não era o Tio, de há muito pouco tempo. O Tio tinha nome, claro. Tinha mulher, sim. Tinha filhos e netos. Tinha irmãos. Era, portanto, muitas coisas, ao mesmo tempo. Mas, para mim, era sobretudo o Tio: o meu Tio. O que juntava a família; o que telefonava, sempre, nos dias certos e, sempre, nos dias que lhe pareciam certos. O que não trocava datas, nem nomes, nem factos. O que me beijava em público. O que me que me contava histórias, de ontem e de hoje. O me perguntava sobre as histórias de hoje e dos próximos dias : "O que é que pensas disto?"; "O que é que achas daquilo?"; "O que é que pode acontecer?" Ao passar pelo Tio, no telemóvel, apeteceu-me falar dele. Das saudades dele. Está na letra "T". Para mim, foi Tio, antes de tudo. É Tio, antes de tudo.