José C. M. Velho a 16.05.2015
Claro que já houve muitos acordos ortográficos e muitos saltos evolutivos na língua, se assim não fosse e quiséssemos uma língua imutável e fechada aos nossos hábitos, ainda hoje falaríamos em Latim.
A língua é um ser vivo e não pertence aos escritores nem aos linguistas mas ao povo, à esmagadora maioria que a usa.
Se no entender dos eruditos a língua cai na lama, pois nessa lama esteja, se é assim que os falantes o desejam.
Um dos maiores escritores não só da Língua Portuguesa como do Mundo é Fernando Pessoa e também ele foi avesso à mudança ortográfica ocorrida no seu tempo, tendo então afirmado que "Nunca deixarei de escrever philosophia ." Hoje tal afirmação vemo-la como um disparate. Não deixa de ser um dos maiores da literatura da Humanidade mas foi um palerma em querer que a língua fosse só sua, a seu gosto, imutável.
Palermas como o Fernando Pessoa continuam a existir ainda hoje. São pessoas excelentes mas palermas nesta falta de visão. Para além disso, são estes defensores intransigentes da língua que escrevem "site" nos seus textos e lêem saite " e não "cite" que é o que escreveram de facto, quando queriam dizer "sítio". Escrevem "blog" quando deveriam escrever "blogue"; escrevem post ", em vez de publicação ou artigo, etc. Tanto defendem a língua que só a vêm prejudicando, de forma inconsciente, é certo, mas irresponsável.
Assim, não só são palermas como ignorantes, pois ignoram o prejuízo que causam lançando a confusão que detêm em si, com disparates ignorantes como: "Agora temos que escrever fato e não facto", o que é falso.
Já ninguém diz tesoira nem oiro quando se referem à tesoura e ao ouro, da mesma forma que nada choca escrever-se eletricidade sem aquele "c" que não faz falta nenhuma de facto.
Desde 1990, e já lá vão tantos anos, lentamente a sociedade portuguesa vai usando este último acordo e já há muitos anos que muitos textos são assim produzidos, sem qualquer problema. Por exemplo, toda a abundante legislação e demais publicações que diariamente enchem vastas páginas das séries do Diário da República, vêm sendo publicadas, há anos, na atual ortografia e ainda não houve nenhum problema na sua compreensão ou interpretação.
Aquilo que os palermas anti-último-acordo dizem são falsidades baseadas na ignorância do próprio acordo, das forças da mutabilidade linguística e na sua própria frustração psicótica, de cariz obsessivo-compulsivo , de ter tudo arrumado de acordo com o que lhes vai na cabeça, como quem coloca todos os objetos em casa direitinhos e sem poderem sair do sítio.
É natural que nunca consigam escrever de outra forma mas tal incapacidade própria não deve ser extensiva ao grupo dos falantes da língua que se encontram por todo o Mundo. Essa obsessão e compulsividade na arrumação e imutabilidade das coisas não precisa de criar pânico nem ataques de qualquer espécie, pois podem continuar a escrever como bem entenderem, ninguém lhes vai apontar uma arma à cabeça para os obrigar a escrever da forma que não querem, mesmo que escrevam noutra língua.
Nem sequer precisam de medicação. Escrevam como quiserem. No entanto, tomem a medicação para outros aspetos da personalidade sempre que seja um médico a prescrevê-la.
Este texto foi integralmente escrito ao abrigo do último acordo ortográfico e, nele, foram usadas as seguintes "novas" palavras: eletricidade, atual, aspeto e objeto, o que demonstra, a pouca e simples incidência, a inexistência de qualquer incompreensão, isto é, a falsidade dos argumentos e da poluição que grassa na sociedade, alimentada por alguns órgãos de comunicação social geridos por maníaco-obssessivos .
João Carlos Reis a 19.05.2015
Prezado José,
é claro que não houve "muitos acordos ortográficos". Em Portugal, antes da de 1990, só houve duas reformas ortográficas. Reformas (e não acordos) porque a reforma de 1911 foi feita à revelia do Brasil e a de 1945, apesar do acordo da Academia Brasileira de Letras, não foi aprovada pelos políticos brasileiros. Quanto ao “…, ainda hoje falaríamos em Latim.”, qual era o problema??? Será que morria alguém por isso??? Mas independentemente disso, neste artigo está uma excelente resposta para si, bem como para quem aduz esse argumento falacioso: " Ortografia, Fonética e Grafia" (http://criticanarede.com/ed1.html).
Precisamente por concordar inteiramente que "A língua é um ser vivo", não posso de forma alguma vê-la nivelada por baixo e empobrecida como faz este aborto e, após três reformas ortográficas em menos de um século, eu apenas tenho a dizer o seguinte: digam isso também aos povos altamente retrógrados, nada inovadores, engenhosos e menos inventivos ainda que existem (pois os malandros não fizeram nenhuma reforma ortográfica de jeito no último século) como por exemplo os francófonos, os anglófonos ou os germanófonos... mas que cambada de retardados estes tipos...
Bem... pelo que escreve no terceiro parágrafo vejo que é uma pessoa simples que gosta de andar na lama, com salários de lama, condições de vida de lama, cultura de lama, cuidados de saúde de lama, instrução de lama, ortografia de lama, economia de lama... e muitas outras lamas... Eu, como dizia o Orson Welles, também sou uma pessoa de gostos simples: o melhor basta-me. Logo, e ao contrário de si, eu desejo (e estou a fazer a minha parte para que isso aconteça) a todos os meus compatriotas excelentes salários, excelentes condições de vida, excelente cultura, excelentes cuidados de saúde, excelente instrução, excelente ortografia, excelente economia e, como não podia deixar de ser, um idioma de excelência.
O seu quarto parágrafo é uma pérola do retrocesso, pois o presente aborto fez com que o Português retrocedesse parcialmente ao Português dos séculos XIV e XV, com uma pequena diferença: apesar de cada qual poder escrever quase como quisesse, a ortografia daquela altura não alterava a fonética das palavras como este acordo implicitamente preconiza... E viva o «disparate» que faz o Idioma retroceder... ups... isto não convém dizer, quanto mais escrever...
Pois... é o normal... quando não se tem argumentos, recorre-se ao insulto... como o Malaca Casteleiro (http://www.jn.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=929651), entre outros... já os mentores e defensores do aborto "... só a vêm prejudicando," de forma irresponsável, mas... consciente... muito consciente…
Já no seu sexto parágrafo, e para que conste, eu apesar de ser frontalmente contra o aborto, não o sou com base no argumento do "porque sempre escrevi assim" ou nos do Fernando Pessoa, mas única e exclusivamente com base em argumentos técnico-científico-linguísticos, ao contrário dos mentores da primeira reforma ortográfica, que se basearam em argumentos ideológico-político-economicistas...
"Já ninguém diz tesoira nem oiro quando se referem à tesoura e ao ouro, ..." Ninguém, como quem diz... fale por si...
Quanto ao seu oitavo parágrafo, e como eu não suporto a mentira, já me incomoda (como sempre incomodou) muito que vamos no vigésimo quinto anos em que nos estão a mentir de que o acordo é, entre outras mentiras, para termos uma ortografia única ou, como alguém disse, “para escrevermos todos da mesma maneira”.
No seu nono parágrafo constato que nunca leu o aborto nem as constatações técnico-científico-linguísticas que refutam as mentiras do acordo, além de constatar, mais uma vez, que quando se tem argumentos fundamentados em “…falsidades baseadas na ignorância…” e numa “… frustração psicótica, de cariz obsessivo-compulsivo, …”, recorre-se ao insulto.
Tirando o facto de continuar os insultos no décimo parágrafo, a “…obsessão e compulsividade…” dos “abortistas” é tanta que até antes do aborto entrar em vigor já o queriam… reformar… No que respeita à “…imutabilidade…” remeto-o para a minha resposta ao seu segundo parágrafo…
E não explano mais nada, pois constato que é mais do mesmo…