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Hoje é Dia da Música e eu lembrei-me de José Cid, na festa da aldeia da minha mãe, a cantar "Música, eu nasci prá música" - em cima do palco, frente a uma multidão. Eu também estava em cima do palco. Pensaram que eu era filho do artista e deixaram-me ficar: olhos abertos de encantamento, ouvidos pasmados com o "Zé da Anita", a "cabana junto à praia" e a canção do "dia em que o rei faz anos" - que era a que mais se adequava a esse dia de "arraial e foguetes no ar". Mas, "A minha música" - a tal do "música, eu nasci prá música" - era a minha preferida. E, ali, estava eu, a ouvi-la: em cima do palco, confundido com um filho de artista, num elegante fato azul "dégradé", camisa branca e laçarote. Uma criação do meu pai, alfaiate, feita para a criação lá de casa: eu e dois irmãos. Foi estreado para o casamento de uma prima e repetido em dias especiais, como a festa da terra da minha mãe, perto da terra de José Cid. Como eramos três, vestido de igual - de fato e de laço - começaram a chamara-nos Trio Odemira. Que disparate! Nós que até passávamos por filhos de Cid; nós, que não nos identificávamos com a música do Trio, nem usámos bigode. De resto, continuamos a não usar - nem mesmo a minha irmã, apesar de, entretanto, ter desenvolvido, uma estranha fixação por Frida Kahlo. Hoje, é Dia da Música. "A minha música" escolheu-me, pela manhã. E eu fique com vontade de vestir o fato azul, em "dégradé".