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Compreender a guerra

por Miguel Bastos, em 22.04.22

guerra fria.jpg

Compreender não é sinónimo de aceitar, nem de concordar, nem de justificar. Por exemplo, ao longo dos anos, tenho tentado "compreender" como é que foi possível Hitler conquistar tantos países europeus, em tão pouco tempo. Chamar-lhe ditador (que era), louco (sim), racista (claro), criminoso (pois), etc. não explica tudo. A verdade é que Hitler beneficiou do medo de uns e da indiferença de outros, da ingenuidade de uns e da cumplicidade de outros. Quando invadiu metade da Polónia, já tinha acordado, com Estaline, que a União Soviética invadiria a outra metade. Muitos dos países que a Alemanha invadiu, tinham largas fatias de população que simpatizava com o nazismo: fosse em França ou na Ucrânia. A União Soviética só mudou de ideias sobre o pacto de não-agressão, assinado com Hitler, quando já tinha tropas nazis no seu território. Os Estado Unidos só perceberam que tinham de entrar na Guerra, quando a guerra lhes entrou em casa. Nada disto "branqueia" o nazismo. Serve só para lembrar que o mal gosta de silêncios e de andar de mãos dadas.
Olhando para a Ucrânia: cem anos depois, a extrema-direita é um problema, sim; o nacionalismo é um problema, sim; a Rússia é um problema, sim. Na Segunda Guerra, os ucranianos, oprimidos pelos vizinhos de leste, acharam que, talvez, os invasores nazis fossem menos maus. Não eram. Foram agredidos antes, durante e depois da Segunda Guerra, por uns e por outros. O povo ucraniano não devia ser obrigado a escolher entre um mal e outro. Tem sido. Repetidamente.
A Europa democrática está ameaçada por movimentos de extrema-direita: autoritários e iliberais. França, que esteve dividida entre a heroica resistência e o regime colaboracionista de Vichy, vai a votos este fim de semana, dividida ao meio. De um lado, está a candidata, Marine, que herdou o nome e o partido de Le Pen pai - um colaboracionista. Marine é próxima do italiano Salvini, do húngaro Órban, do russo Putin. O russo, que quer "desnazificar" a Ucrânia, apoia líderes, partidos e movimentos conotados com a extrema-direita. Parece que há bons e maus nazis. Não há. Diz-se, muitas vezes, que a "história não se repete". Talvez não. Eu diria, porém, que se imita muito bem a si própria.
[Na fotografia: "A Guerra Fria", de Odd Arne Westad]

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15 comentários

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s o s a 24.04.2022

gostaria de poder apreciar (elogiar) qualquer coisa, mas 
só se for o esforço...nao conseguido. 
Confesso que previamente a ler o post, logo assumi que iria ler alguem, mais um, a descobrir a polvora.  Mas afinal, certamente defeito meu, continuo sem compreender as guerras.  Melhor : gostaria de atraves desta leitura poder melhorar a compreensao. 
Talvez  tenha  demasiada extrema direita no post.
Fala, e aparentemente bem na logica do post, portanto  tambem aqui nao vemos escancarado o pacto que o hitler assinou com os ingleses. 
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Tiago a 24.04.2022

Permita-me discordar do seu comentário. O texto chama a atenção para o facto de o "poder" das potências invasoras, ser em grande medida, consentido pelas outras nações do mundo. Claro que a guerra é incompreensível, apesar de se apresentar informalmente como a "continuação da diplomacia por outros meios".
Pertencer a um extremo político, significa ter uma concepção demasiado simplificada dos problemas da sociedade, deixando-nos à partida com menos capacidade para compreender e aceitar "os outros" e para criar pontes e consensos. A retórica política doa extremos é sempre do "nós contra os outros", mesmo que sejam concidadãos de pleno direito. Tal,  inevitavelmente, coloca-nos mais próximo da guerra. Talvez daí, a insistência na palavra "extrema" que tanta intriga lhe suscitou. 
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s o s a 25.04.2022

Fez muito bem em discordar, só percebo mal é discordar exatamente de que ?
Ou seja , gostaria muito de poder contrariar ou acrescentar ao seu comentário, mas nao vejo o que . 
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Anónimo a 25.04.2022

Talvez não perceba porque também não percebe que o que é diferente de quê!
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Anónimo a 25.04.2022


Referiu a Sra. Le Pen - há que tentar perceber - com alguma dificuldade - através da propositada bruma "mentirática" como é que uma candidata alegadamente xenófoba, racista etc etc etc conseguiu esmagar completamente Macron nos distritos de Guadalupe, Martinica, Guyana (com % superiores a 60 e 70%), regiões em que a etnia negra é fortemente maioritária e os caucasianos se encontram entre 10 a 20%.
A análise desta notícia não interessa, as conclusões que se possam tirar questionam a narrativa.
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Anónimo a 25.04.2022


E como refere a Ucrânia: um pequeno Q&A :
- A Ucrânia é membro da NATO ? Não.
- A Ucrânia é membro da UE ? Não.
- A UE é uma aliança militar ? Parece e age como, por declarações e acções de muitos oficiais que os cidadãos europeus não elegeram (eg. Leyen, Borrell, Michel... nem Scholz nem Draghi  foram a votos com alemães e italianos).

- A Ucrânia é uma democracia ? Não.
- A Ucrânia "partilha os valores europeus" ? Se é a ilegalização de oposição e fecho dos media, detenção e desaparecimento de opositores, batalhão Azov, etc, definitivamente, não são os meus.
Expliquem-me de novo porque é que a Europa se prepara para mergulhar na maior crise energética da sua história, empobrecimento,  e possivelmente pedir aos europeus para mandar os filhos combater na Ucrânia.
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Tiago a 25.04.2022

Conclusão das suas ideias: 
1- Temos de agradecer aos russos, o facto de estarem a libertar os ucranianos.
2- A maior chatice disto tudo é que a gasolina está cara...
3- Talvez tenhamos que mandar os filhos do europeus combater "desnecessáriamente". Recomendo a leitura do texto deste blog e o meu comentário anterior, que versa, em parte sobre esta questão. 
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Anónimo a 25.04.2022


E enquanto a malta está distraida, outros acontecimentos importantes teem lugar, como a introdução subrepticia do sistema de crédito social chinês e o precursor "green pass" para o estabelecimento da ditadura digital:
(Duas conferências de Van der Leyen, a ultima faz 4 dias)

https://www.youtube.com/watch?v=azaOdC5Fsv0
https://www.youtube.com/watch?v=6bUcqsjTuG4
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Anónimo a 25.04.2022

Incorrectamente referi que a conferência de imprensa tem 4 dias, não é correcto, a publicação Youtube é que foi há dias, a conferência é anterior.
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vawos la ver a 25.04.2022

ó senhor Tiago, nao interessa se os russos estao a libertar a ucrania, se só se estao a divertir, de todo o modo  nao temos que lhe agradecer. 
O post nao o diz claramente, mas a russia enquanto POTENCIA tem a pregorrativa de se defender até antecipadamente.  Alias, nao podes estar esquecido que outra potencia nao so sempre afirmou abertamente que intervirá em qualquer parte do mundo onde seja seu interesse, como até coloca sua bandeira em barcos  de paises  terceiros que assim hostilizam e violam o direito de um pais.  Vou fazer um desenho : suponhamos que uma Coreia nao permite que os barcos da outra circulem no seu mar, vai a Potencia oferece a sua bandeira para que assim os barcos já possam circular, pois se forem atacados, reagirao. 
O que mais interessa é que eu e os meus filhos nao sejam envolvidos em guerras, seja contra ou a favor da russia . 
Que se f. mas deixem-nos em paz. 
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Tiago a 25.04.2022

Reformulo então as conclusões anteriores: os russos, como potência que são, que façam o que entenderem para se defender (dos ucranianos, dos moldavos ou quaisquer outros), desde que nos "deixem em paz".
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vawos la ver a 25.04.2022

responder, seria chover no molhado. 
Está tudinho no comentario.  Releia, faz favor. 
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vawos la ver a 25.04.2022

uma coisa sao pintelhos, a grande questao é esta, raramente expressa, e  no momento em titulo no MSN assim :

ue adverte que resposta a agressao russa definira ordem mundial

 nm 25 4 2022

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vawos la ver a 25.04.2022

isto é :
os ditos ocidentais, que sao só meia duzia no contexto da populaçao global, mas que dominan o mundo, estao cagadinhos de medo. Nao da russia, sim do mundo.
Vejam assim: o outro mundo, o mundo "negro"  vai libertar-se. 


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vawos la ver a 25.04.2022

vou dar vos um pessimo exemplo mas que agiliza a percepçao :
a argentina expulsou os ingleses de uma ilha, mas como os ingleses sao mais fortes, reocuparam-na.
Os ingleses sao mais fortes porque o vendedor de armas nao ia fornecer a argentina contra os ingleses. Tá percebido ?!

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