por Miguel Bastos, em 16.11.23
Depois de um chorrilho de insultos, ainda ouvi as palavras "traidores" e "corruptos", já em "fade", com a voz do moderador (será que moderou?) a sobrepor-se, para anunciar o fim do debate. Fique aliviado por ter chegado no fim. Mas, eis que, depois de um "jingle" de estação e um bloco publicitário, anuncia-se um espaço de opinião. Entra uma batida "hip-hop" e uma voz coloquial pergunta "o que é que nos trazes hoje?" e o "opinador" começa a desenrolar um discurso contra o oportunismo, o socialismo, o chavismo, e volto a ouvir as palavras "traição" e "corrupção" e um locutor / jornalista a anunciar que "vale a pena ouvir as pessoas na rua" e ouvem-se palavras de ordem (ou serão de desordem?) e regressa a conversa informal com o "opinador" que traz mais acusações ao som de batidas "hip-hop". E, depois, novos "jingles", e "spots" e, agora, "a história de uma mulher que foi morta, assassinada, à porta de casa". E segue-se uma descrição pormenorizada, com um "jornalista criminal" ao telefone: a senhora teria mais de 60 anos e uma relação sentimental com o assassino, e estaria a recuperar de uma operação, e o agressor encostou-lhe uma arma na nuca, e ele descreve a arma do agressor, e o local onde a bala terá entrado, e como o sangue escorreu sobre os corpos dos dois. "Que horror!", exclama o locutor / jornalista. E a rádio, dinâmica, passa para outros sons das manifestações, intercaladas com vozes que me parecem ser de políticos (em assembleia, em entrevistas, em comícios), e palavras de ordem ("crime", "justiça", "corrupção", "política") - desta vez na voz colocada de um locutor. E, depois, entra mais um "opinador" que resolveu falar diretamente para mim "Escuta, se tu queres...". Mas eu - esperto - desliguei-lhe o rádio na cara.
Chego a casa, depois de uma passagem, não programada, pela Onda Curta - há muito abandonada em Portugal. E, ainda, não estou em mim.