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A minha irmã vive fora de Portugal há muitos anos. Num destes verões, olhou para meia dúzia de amigos e familiares e exclamou: “parecem os meus amigos árabes!”. Cabelos escuros, bigodes, pele crestada pelo sol. De facto, não é só o Fernando Ruas que parece o Saddam. Há muitos portugueses que parecem.
O “árabe” que me serviu um café, esta manhã, sabe disso. A pele é escura, o (pouco) cabelo está rapado e usa barba. Mas acha que precisa de mais sol. “Faço uns dias de praia e depois peço ao governo para me dar uma casa, como os sírios”, graceja. Em Portugal, andamos assim. Eternamente divididos, entre os que acham que o Estado nos deve dar tudo e os que acham que andam todos a viver “à conta” do Estado.
Este “árabe” é do segundo grupo. Usa umas pulseiras de cabedal e uma camisola dos Ramones “à moderna”, mas é antigo. Muito antigo. Poderia explicar-lhe que não basta ser moreno para ser sírio. É preciso ter família morta, violada, a casa destruída e outros pormenores. Mas não fui a tempo, porque, logo a seguir, ele disse: “Vou sair para apanhar ar. Já volto”. Pois, eles também saem. Mas não voltam.