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Paris, sempre

por Miguel Bastos, em 14.03.23

paris.jfif 

Gosto muito destes dois vizinhos: tão diferentes, tão iguais. Comecemos pelas capas. Parecem daqueles discos baratinhos, que se vendiam nas margens do Sena, a turistas apressados, na cidade dos clichés: "a cidade luz", "a capital do amor". "Ah, Paris!"; "Ah, o Arco do Triunfo!"; "Oh, a Torre Eiffel!". Na realidade, o disco original de Michel Legrand chama-se "I Love Paris" e não tem esta capa. Começa com o tema-título, o clássico de Cole Porter, e equilibra-se, ao longo do disco, entre visões "de fora" e "de dentro" sobre Paris. Os compositores vão de Jerome Kern a Offenbach. As orquestrações, de Legrand, respiram "jazz" e "chanson", em doses generosas.
 
Se a Paris, de Legrand, é moderna e cosmopolita, a Paris, de Dimitri from Paris, é pós-moderna. Não rejeita um só cliché. Pelo contrário, assume-os todos: absorve-os, acentua-os e devolve-nos os clichés, de forma diletante e divertida. Inventa um personagem: o sargento Bill T. Hawthorne que terá desembarcado na Normandia, para libertar Paris, onde uma tal Monique lhe prendeu o coração, em Montmartre. Mostra o "Monsieur Dimitri", na sua "pied à terre", na Riviera francesa. A música, entrecortada por vários interlúdios, mistura rimos latinos, "house" e "funk", com música de bar de hotel e filmes de espiões. Uma delícia. No final, ouve-se alguém a dizer: "Ah, Paris sera toujours Paris". Será. Paris será o que cada criador quiser. Será o que cada um de nós quiser.

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Lá para as minhas bandas

por Miguel Bastos, em 01.03.23

tsf.jpg 

Ontem, o "War", dos U2, fez 40 anos.
Hoje, o "Dark Side of the Moon", dos Pink Floyd, faz 50.
E a TSF 35.
As bandas de que eu gostava, quando era novo, estão a ficar velhas.

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Tom Verlaine

por Miguel Bastos, em 02.02.23

tom verlaine.jpg 

Olá, Tom! Tinha saudades tuas. E nem sabia.

Se quiserem saber mais sobre Tom Verlaine, leiam aqui o Nuno Galopim, que ele explica estas coisas muito bem.

https://giradiscos.me/2023/01/29/tom-verlaine-1949-2023/?fbclid=IwAR2mMJl6Z-z2dFWVBND8zh_6D1lxFT7_r8YJBXvjqGX5g3191yQ2svYRAtw

 

 

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À boleia

por Miguel Bastos, em 27.12.22

bruce.jpg 

- Vais trabalhar?
- Vou.
- Dou-te boleia?
- Não vale a pena.
- Deixa-te de coisas. Cantamos pelo caminho.
- Obrigado, boss.

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Lugar do outro

por Miguel Bastos, em 02.12.22

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Gosto de me colocar no lugar do outro. Pelo menos, tento. E se eu fosse o outro? E se eu estivesse no lugar do outro? E se o outro estivesse no meu lugar? A língua inglesa tem a expressão "in my shoes / in your shoes" - à letra, "nos meus sapatos / nos teus sapatos". Hoje, apeteceu-me estar nos sapatos do Zeca. Melhor dizendo, nas tamanquinhas.

(O disco "Com as minhas tamanquinhas", de José Afonso acaba de ser reeditado. Depois de vários anos sem edição discográficas, a obra integral de José Afonso está a ser reeditada).

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O mestre e a obra-prima

por Miguel Bastos, em 21.11.22

fasto.jpg

"Não se deve confundir", diz a expressão, "a obra-prima do mestre, com a prima do mestre-de-obras". "Por este rio acima" é uma obra-prima e acaba de fazer 40 anos. Baseado nas viagens de Fernão Mendes Pinto, as letras do disco são um mergulho nas profundezas dos descobrimentos. Por vezes, o mergulho exige apneia: cheira a morte, a doença, a carne queimada e esventrada. Não há, aqui, qualquer exaltação ao lado bravo, guerreiro e conquistador - apenas, o lado escuro dos descobrimentos. A riqueza das letras é tão grande que acabou por secundarizar, involuntariamente, a riqueza das canções, dos arranjos, dos instrumentos. As percussões tradicionais portuguesas, mas também as tablas e as baterias; a guitarra portuguesa e o cavaquinho, mas também o alaúde e a viola de gamba; o piano acústico e os sintetizadores; as cordas e os instrumentos de sopro; tantos instrumentos que acompanham a voz e a viola acústica de Fausto, omnipresentes, que, ora nos levam para paisagens exóticas e longínquas; ora nos trazem de volta a Portugal, com ritmos e melodias que nos são familiares. Obra-prima.
 
"Por este rio acima" é um álbum duplo, denso, conceptual, com um pequeno "libreto" ilustrado no interior. A viagem cresceu para trilogia, de forma tão avassaladora que (porventura) acabou por se sobrepor à obra integral de Fausto, que pode/deve ser (re)descoberta. Estamos perante um caso em que não se confundiu "a obra-prima do mestre, com a prima do mestre-de-obras", mas em que, por causa da obra-prima, se poderá terdeixado de reconhecer, devidamente, o mestre que a criou.

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Eu, tu, we

por Miguel Bastos, em 16.11.22

fire.jpg 

No início, era a pandemia: o confinamento, o isolamento. O último disco dos Arcade Fire parte daí: da ansiedade ("Age of Anxiety"), da toca de cada um ("Rabbit Hole"). Começa centrado no "eu", mas evolui para um "nós". É um disco de introspeção, mas também de catarse, de redenção e de conexão. Um disco fotografia; mas, também, um disco cartão-postal: "Espero que este postal te encontre bem de saúde" / "Nós, por cá, tudo bem". No fundo, é o disco que eu estava a precisar de ouvir, por estes dias. Um disco que me faz regressar à minha adolescência: quando achava que as canções podiam salvar-me; quando achava que as canções podiam salvar o mundo. Por esta ordem, ou pela ordem inversa.

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Achar o Brasil

por Miguel Bastos, em 02.11.22

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- Essa cantora, aí... é portuguesa, "Migueu"?
- A Fernanda Abreu? Não, é brasileira.
- Tem certeza, "Migueu"?
- Tenho, tenho.
- Conheço não. Você conhece outras cantoras brasileiras?
- Ui, tantas!
- Quais?
- Elis Regina, Maria Bethânia...
- De agora...
- Marisa Monte...
- Já ouvi falar. Você gosta de axé?
- Hum...
- Sertaneja?
- Gosto mais de bossa nova.
- Ah! Meio triste "né", "Migueu"?
A Luci, a descobrir Portugal. Eu, a tentar achar o Brasil.

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Tema: o amor

por Miguel Bastos, em 26.10.22

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"Quando for grande", pensei, "vou-me casar ao som do 'Love Theme', do Barry White". Foi, mais ou menos, isso que aconteceu. A música não foi no momento programado na minha cabeça, mas ouviu-se. O casamento fez-se e manteve-se. Mantém-se, felizmente. Faltava, apenas, o disco original, que comprei passado uns anos, em segunda mão. A data da edição é mais próxima do meu nascimento, do que de meu casamento, e é descuidada (coitadinha). Na contracapa, tem a ficha técnica em português. Na capa, exibe, em letras estilizadas, "Arreglos e Direccion: Barry White". Escapa, à primeira vista. Ganha graça, à segunda. Barry, a piscar o olho a Gershwin no título "Rhapsody in White". Barry, o maestro negro com sobrenome branco. Barry, a dirigir uma orquestra chamada "Love Unlimited". Barry e o amor. Sempre o grande tema.

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Os discos da mãe

por Miguel Bastos, em 07.10.22

A mãe não gosta de deitar coisas fora. Nem gosta de ver coisas deitadas fora. No outro dia, viu um saco cheio de CD, ao lado do contentor. Resgatou-os.
- Mas, isto é tudo pirata, mãe!
- Como assim?
- Isto são discos copiados em casa - como as cassetes, antigamente.
- Pois, isso não sei.
Olhei para as capas. Muitas estavam escritas, à mão.
- Mas tu gostas desta música?
- Acho que não gostei de nada.
Pelos vistos, a mãe torceu o nariz às "house sessions", fez caretas aos "techno beats" e não se deixou encantar pelo "drum n' bass" (desculpa, LTJ Bukem).
Mexe a chávena do café, enquanto aponta, com o queixo, um CD.
- Acho que só gostei desse aí.
Olho para a capa do CD dos Portishead, numa impressão de má qualidade. Glória à mãe.

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