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Portanto, a vida também é isto: levantas-te e...
O amor tem altos e baixos. Às vezes, dou por mim arrebatado, inebriado, embevecido. Outras vezes, recuo e vacilo. Lamento-lhe a pobreza, a decadência, o desleixo. Nessa altura, dá-me para ouvir esta música. "Morro de amor", diz o primeiro verso do "Fado Moliceiro", que faz renascer a minha paixão. Hoje é dia de festa e de amor. Na minha terra. Pela minha terra.
[O Fado Moliceiro junta três génios: Ary dos Santos, Carlos do Carmo e Carlos Paredes]
Roma e Cacia não se fizeram num dia
"Sabes que há quintas, abandonadas, nas Ilhas da Ria?", perguntava-me. "Sabes que há gado, a pastar, no meio da Ria", dizia-me no fim-de-semana seguinte. O António estava maravilhado com as descobertas que andava a fazer no barco de um amigo. Eu também, só de o ouvir contar. A Ria de Aveiro tem uma extensão de quase cinquenta quilómetros. É uma mancha recortada, com curvas e contracurvas, pontilhada de ilhas e penínsulas, com zonas traçadas a régua e esquadro para marinhas de sal e viveiros, com avenidas de águas profundas e correntes traiçoeiras, e recantos de sapal com pouco mais de um palmo de água. A Ria está lá dentro, misteriosa, a guardar os seus segredos. A maioria das pessoas, que vivem à volta dela, permanecem à margem: indiferentes ou curiosas; ignorantes, em qualquer dos casos. A Ria é uma casa de portas e janelas abertas, mas de cortinados corridos para evitar olhares indiscretos. Se é difícil espreitar, é, ainda, mais difícil conhecer.
Pequenino (mas precioso), o livro "Ilhas da Ria", da jornalista Maria José Santana, não nos torna íntimos lá de casa. Mas, pelo menos, já temos um colega, que é amigo de um familiar que ainda trabalhou para um senhor que tinha uma ilha, plantada no meio da laguna... que, nos anos 50, ainda produzia batatas, frutas e legumes, e que...
"Ainda bem que chegaste", costumava dizer-me um velho amigo de infância, quando eu chegava de férias. "Podes-me ler o postal que me enviaste? Gostei muito, mas não percebi nada do que está escrito. A tua letra é terrível." Não sei se vou perceber o livro “Ilhas da Ria”, da Maria José Santana. Aparentemente, a letra não é má. E já vi o postal. É lindo, tem uma foto do Adriano Miranda.
Nós, os de Aveiro, não trocamos os "bês" pelos "vês". Sabemos que os "vês" existem. São consoantes mudas: veem-se, mas não se ouvem. Com o amor, é o contrário. É um fogo que não se vê, mas que se ouve: por exemplo, nas canções do Cid.
Bem, há tantos flamingos na ria de Aveiro, que acho que já sei onde é que o Christopher Cross vai gravar o próximo disco!