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Leitura, com acessório de época.
"A 'maskirovka' (dissimulação) é uma técnica desenvolvida pelo exército russo que pode resumir-se em três palavras: engano, negação e desinformação." A invasão da Ucrânia, em 2014, e a técnica utilizada (com um grupo não identificado, formado por veteranos soviéticos, agentes russos, ucranianos pró-russos e mercenários) surpreenderam os líderes dos Estados Unidos e de vários países europeus. Angela Merkel não foi surpreendida, escreve Kati Marton, na biografia "A chanceler", que dedica um capítulo à guerra na Ucrânia. Educada (como Vladimir Putin) na fé soviética, Merkel não tinha ilusões: sabia que Putin era um antidemocrata e que estava empenhado em minar as democracias e alargar a sua influência. A Ucrânia fazia parte do plano.
A eternização de Putin no poder, foi um dos motivos pelo qual Merkel se candidatou a mais um mandato. Mas não foi o único. O nacionalismo continuava a crescer: não só na Rússia, mas também na China, no Reino Unido, na Polónia, na Hungria, na Turquia e, até, na própria Alemanha. Mais, nos Estados Unidos também - com a chegada de Donald Trump. Enquanto Putin mantinha uma guerra em lume brando, na Ucrânia, os Estados Unidos escolheram um presidente incendiário. "Sabe, a Alemanha não fez quase nada por vocês", disse Trump no primeiro encontro com Volodomyr Zelensky. Também não foi surpreendente. Trump é especialista no insulto, na fanfarronice e, sobretudo, na ignorância. No final do primeiro encontro, com Trump, na Casa Branca (em que o novo presidente americano defendeu que "A UE é pior do que a China, só que mais pequena"), Angela Merkel afirmou, aos jornalistas: "A próxima década nos dirá se aprendemos com o passado". Fez uma pausa e acrescentou: "Ou não". Já antevíamos a resposta. Agora temos a certeza. Infelizmente, é "Ou não".
Por estes dias, a minha rádio voltou a passar a canção "Russians", de Sting. A canção marcou o ano de 1985. Estávamos em plena guerra fria, cheios de medo da guerra nuclear. A União Soviética estava em queda livre e Reagen andava com a cabeça nas nuvens. Os Estados Unidos lançaram um programa para impedir uma guerra nuclear, a partir do espaço. Tinha o nome, oficial, de Iniciativa Estratégica de Defesa, mas ficou conhecido, popularmente, como "Guerra da Estrelas". Este nome dava-nos uma ideia de ficção, de uma brincadeira de crianças muito, muito perigosa. "Russians" fala de Reagan, de Khrushchev, de uma guerra "invencível", do brinquedo mortal (bomba atómica) de Oppenheimer, do amor pelas crianças. A canção passava, muitas vezes, antes ou depois do telejornal e dava-nos arrepios. Os mesmos que sinto, por estes dias, em que voltámos a ouvir "Russians", pelas piores razões.
Filho - Pai, podes-me explicar o que é que está a acontecer no Afeganistão?
Sabemos muito pouco sobre o Afeganistão. Um país devastado, há várias décadas. Uma espécie de aldeia gaulesa, que resistiu aos poderosos exércitos da União Soviética e dos Estados Unidos. Os talibã são, também, uma espécie de lusitanos, mas mais disciplinados: ou governam, ou não se deixam governar. Não é, no entanto, preciso perceber muito de Afeganistão, para perceber o que aí vem. Os talibã reconquistam o território, a grande velocidade, com a tomada militar de mais de uma dezena de capitais de província. Esta madrugada, caiu a segunda maior cidade do país: Kandahar. A capital, Cabul, está ameaçada. O governo tenta, ainda, salvar a pele, com acordos para a partilha do poder. Os soldados americanos estão de saída, mas, o governo enviou três mil soldados, para retirar o pessoal diplomático de Cabul. Outros países seguem o exemplo. As Nações Unidas pedem, aos países vizinhos, para abrirem as fronteiras. Mais de 3 milhões de refugiados já abandonaram o Afeganistão. Está tudo pronto para a desgraça. Estejamos prontos para as lágrimas de crocodilo.
[Foto: Reuters]
Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden anunciou que o uso da máscara deixa de ser obrigatório, para quem já tomou as duas doses da vacina contra a COVID-19.
No livro "Uma terra prometida", Obama aborda a saída americana da crise. Apesar de, na altura, se ter saído bem, foi muito criticado por se ter voltado, rapidamente, à normalidade - sem ter aproveitado a crise para definir "um novo normal". Isso passava por identificar as causas da crise, criminalizar os responsáveis, definir novas regras, proteger os mais indefesos. Obama compreende as críticas e, de certa forma, partilha-as. Mas, defende que era urgente manter a ordem de pé, antes de a mudar. Porque, perante uma crise, quem sofre primeiro, e durante mais tempo, são os mais desprotegidos. A crise a que Obama se refere é a crise financeira de 2008, mas é impossível não pensar na crise atual. Durante o seu mandato, Obama foi criticado à esquerda e à direita; por democratas e republicanos; conservadores e progressistas. Porque fez demais, ou de menos; porque foi demasiado rápido, ou lento; demasiado conservador, ou liberal. Fica, no entanto, a convicção de que tentou, sempre, pesar os prós e os contras, em cada decisão. Barack é sólido. Obama, mas não cai.
Pence, logo existe.
https://www.rtp.pt/noticias/mundo/pence-recusa-invocar-25a-emenda-para-destituir-trump_n1289016