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Ser alemão

por Miguel Bastos, em 06.11.23

kraftwerk.jpg 

A questão é identitária: como ser alemão, depois do nazismo e da destruição da Alemanha, no final da Segunda Guerra Mundial? Qualquer afirmação identitária, no final dos anos 60, fazia soar o alarme e ressuscitar fantasmas. De resto, ainda faz. O livro de Uwe Schütte sobre os Kraftwerk fala, abundantemente, sobre o assunto. Nascidos na Alemanha Ocidental, na cidade Düsseldorf, em plena região industrial do Reno-Ruhr, os Kraftwerk queriam fazer um tipo de música que se inspirasse e refletisse a cultura alemã. Começaram por negar todos os clichês da música pop-rock anglo-americana: os cabelos compridos, as calças de ganga, os casacos de cabedal, as poses "sexy", as guitarras. De seguida, assumiram a ideia estereotipada dos alemães: frios, disciplinados, eficientes, burocráticos. Visualmente, pareciam cientistas ou engenheiros ou académicos ou gestores. Definiram-se - não como artistas ou músicos - mas, como "trabalhadores". Era tudo tão exagerado, que alguns perceberam logo que havia um lado profundamente irónico e subversivo. Outros não perceberam, ou demoraram mais tempo a perceber. Exploraram temas relacionados com a ciência e a tecnologia, desenvolvendo (e personificando) a relação homem/máquina. E fizeram-no, buscando inspiração em várias referências artísticas alemãs, da República de Weimar: do cinema, da fotografia, do design ou da arquitetura. No fundo, defende Uwe Schütte, os Kraftwerk foram buscar muitas das ideias de futuro, nesse passado: fosse no cinema de Fritz Lang, ou no design da Bauhaus. Essa opção artística ajuda-nos a perceber porque é que, ao fim de mais de 50 anos, ainda faz sentido um livro com este título "Kraftwerk: Future Music from Germany". Porque é que os Kratfwerk ainda são futuro.

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Abóbora

por Miguel Bastos, em 01.11.23

abóbora.jpeg 

"Cabeça de abóbora", costumava chamar-me o meu pai, sempre que eu me esquecia de alguma coisa. Não percebia a ligação entre as abóboras e a minha cabeça: distraída e sem juízo. Lembro-me de lhe perguntar o significado da expressão, mas não me lembro da resposta. "Comes muito queijo", diria o meu pai. Provavelmente, não valeria a pena insistir na pergunta. Correria o risco de ouvir outra das suas expressões: "Abóbora, que arroz é água". Abóbora, no dia dela.

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Secretário-Geral

por Miguel Bastos, em 25.10.23

guterres.jpg 

Pelo que percebi, o embaixador de Israel na ONU pediu a “demissão imediata” de António Guterres, porque percebeu que Guterres é (mesmo) Secretário-Geral das Nações Unidas. Não é Secretário-Geral de Israel, nem da Palestina, nem da NATO, nem da União Europeia, nem do G7, nem da Web Summit. É de todos.

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Más línguas

por Miguel Bastos, em 20.10.23

 

- Esta música está-me a incomodar. É fraquinha, ou é impressão minha?
- Bem, depende dos gostos.
- Mas é alguma coisa de jeito?
- Costumam dizer que esta é a maior banda de rock do mundo.
- Quem é que diz isso?
- As más línguas. E as boas, também.

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Mister

por Miguel Bastos, em 18.10.23

- Tens os papéis, para entregar ao treinador?
- Tenho, pai.
- Como é que ele se chama?
- Não sei.
- Não sabes?
- Não, pai, é novo. Nós chamamos-lhe "mister".
- Mas, aqui, são todos "mister" .
- Todos, pai?!
- Todos, não. O teu pai é um "senhor".

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Paixão

por Miguel Bastos, em 17.10.23

mr vertigo.jpeg 

Há uns anos (quase 30), apaixonei-me por este livro. Tanto, que me lembro de ter escrito uma carta apaixonada, sobre o livro, à minha paixão da altura. Para ser franco, já não me lembro bem da história de "Mr. Vertigo". Fui continuando a alimentar a minha paixão com outros livros, do mesmo autor. Porém, a dada altura, a paixão entrou numa certa rotina. Afastámo-nos, um pouco. Enfim, o normal.
Há uns tempos, a minha paixão da altura (sim, essa contina a mesma) deu-me um livro de Paul Auster. E foi paixão, de novo.

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Pipi

por Miguel Bastos, em 11.10.23

O líder do PSD disse que o Orçamento do Estado é muito "pipi", muito "betinho", e toda a gente aplaudiu. Eu ainda comecei a aplaudir, mas, depois, reparei que estava de blazer e calças beges. E contive-me

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Jornalismo e jornalistas

por Miguel Bastos, em 10.10.23

ostras.jpg 

O livro "4 3 2 1", de Paul Auster, está cheio de referências ao jornalismo e aos jornalistas.
 
"Ser jornalista significava que nunca podíamos ser a pessoa que atirava pela janela o tijolo que começava a revolução. Podíamos ver o homem a atirar o tijolo, podíamos tentar perceber porque é que ele tinha atirado o tijolo, podíamos explicar aos outros a importância do tijolo no início da revolução, mas nós próprios nunca podíamos atirar o tijolo ou mesmo fazer parte da multidão que incitava o homem a atirá-lo. Por temperamento, Ferguson não era uma pessoa inclinada a atirar tijolos. Era, esperava ele, uma pessoa mais ou menos razoável, mas as agitações daquele tempo eram tais que os motivos para não atirar tijolos começavam a parecer cada vez menos razoáveis, e quando finalmente chegasse o momento de atirar o primeiro, a simpatia de Ferguson estaria com o tijolo e não com a janela."

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Apoiar Portugal

por Miguel Bastos, em 04.10.23

- Estamos a ganhar, pai?
- Acho que sim. Há pouco, estava 1-0.
- Porque é que não estás a ouvir o relato?
- Porque estou a ouvir música.
- Clássica, ainda por cima.
- E...?
- Não devíamos estar a apoiar Portugal?
- E estamos.
- Com música clássica!?
- Exato, do Joly Braga Santos.

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Inculta

por Miguel Bastos, em 02.10.23

IMG_0256.jpg 

Esta entrevista de Joana Marques, ao Expresso, anda na minha cabeça, há uma semana. Na capa da Revista, lê-se que Joana vem de uma família de intelectuais. Não é a primeira, nem será a última. Muitas figuras, com destaque no espaço público nacional, vêm de famílias de intelectuais. Geralmente são, também elas, intelectuais. E há, também, muitos casos de intelectuais que vêm de famílias de operários, agricultores ou comerciantes. É o resultado de uma longa aposta na educação, que tem contribuído para aquilo que, geralmente, se designa como "mobilidade social". Uma mobilidade "para cima", que Joana Marques terá colocado em causa. Em casa, a mãe de Joana dedicava-se às traduções, o pai à história, o irmão à filosofia. Joana dedicava-se a ver programas de Teresa Guilherme. Ainda é assim. O pai (João Pedro Marques) escreve "romances históricos, e grandes" que ela não lê "e ele sabe". E eles, em casa, não percebem bem quem são as pessoas, em causa, que ocupam os programas de Joana. É certo que, a dada altura, Joana confessa que "gostava de" se sentir "um bocadinho menos inculta"; mas, logo a seguir, confessa que não gostou muito de andar na universidade porque "parecia que estava em casa!". Não haverá muitos casos assim, em Portugal. Mas creio que se irão tornar, cada vez mais, comuns. Poderíamos pensar que é uma tragédia, mas é comédia.

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