Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
"Desliga a música, esse cantor está a morrer!" A pequena Camila percebeu tudo, antes de nós. David Bowie tinha um novo disco: "Blackstar". Ouvimos (e vimos) os primeiros temas. Que arrepio! Bowie, o eterno experimentador, ensaiava a morte. Sabíamos que estava mal de saúde, mas Bowie nunca foi dado exercícios autobiográficos. Quando editou "Hours", refletiu sobre as consequências do envelhecimento, nomeadamente, nas relações amorosas. Perguntaram-lhe se falava de si próprio. Disse que não. Ele tinha casado, há pouco tempo. Fora pai, recentemente. Não, não era sobre ele. Era, apenas, sobre as pessoas da idade dele. Tinha-se inspirado nas pessoas que o rodeavam. Portanto, não, Camila: o cantor não está a morrer. O cantor teve um problema de saúde - grave, é certo - e, agora, está a falar sobre o assunto. Mas a Camila tinha razão. Soubemos, passados dois ou três dias, que a pequena Camila tinha razão. Bowie escreveu sobre a morte e morreu - como Mozart, no Requiem; como Tchaikovsky, na Sinfonia Patética. E, eu, depois de ter negado a morte iminente, recusei-me a ouvir Blackstar - o derradeiro disco do Bowie - durante quase 10 anos. Ando a ouvi-lo, agora. Nem tudo é morte. Tem negrume, é verdade, mas esse negrume sempre atravessou a sua obra. Gostava, até, de dizer que este disco é de uma enorme vitalidade, mas receio que vos soe a humor negro. "Blackstar" é um ótimo disco, talvez uma obra-prima. Eu sei que vocês sabem disso, há muito. Mas eu, medricas, só lá cheguei agora.