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- Uau, isto é só gente famosa!
O jovem estagiário, tinha chegado à redação da rádio no dia anterior e, agora, acompanhava-me pelas instalações. Estava excitadíssimo: os apresentadores dos jornais da televisão ("uau, só estrelas!"), dos programas de desporto ("pá, nunca pensei!") e figuras do entretenimento "achas que posso falar com eles?"). Cruzámos o corredor e demos de caras com o Francisco Sena Santos. Não mostrou qualquer excitação.
- Sabes quem é? - pergunto.
- Não faço ideia.
- É o Francisco Sena Santos.
- Ahh...
- Um dos maiores nomes da rádio...
- A sério?!
- de sempre.
- Não estás a exagerar?
- Não.
- Mas é antigo, já não está na rádio...
- Está, está. Todos os dias.
- Nunca o tinha visto.
- É natural. O que é estranho é que nunca o tenhas ouvido.
Para ouvir, aqui:
https://www.rtp.pt/play/p3848/e832642/um-dia-no-mundo
Hoje, mergulhei, a fundo, nos anos 90. Fui ao hipermercado, em calças de fato de treino. Comprei o jornal, em papel. Paguei, em dinheiro.
Se não fosse o senhor reformado, a jogar “online” com o vizinho do lado, e a avó modernaça, a falar alto no “whatsapp”, tinha sido uma experiência e pêras.
Bem, vamos lá regressar ao futuro. Enter.
- Lá estás tu, a fazer "bowling".
- A fazer "bullying", queres tu dizer.
- Não, não. Eu disse bem: a fazer "bowling".
- Não percebi.
- Então, no "bullying" tens um grupo de pessoas que, repetidamente, maltratam uma vítima, não é?
- Sim.
- Por norma, uma pessoa, vulnerável e indefesa, contra uma quadrilha de malfeitores. Certo?
- Exato.
- Por isso, é que eu digo que fazes "bowling". És um tipo, sozinho, a mandar tudo abaixo.
Canto-lhe Sérgio Godinho ao ouvido, enquanto o chocolate se derrete na minha boca: "A minha cachopa sabe a chocolate". E traz-me chocolate, a cachopa: da Bélgica, sobretudo. E foi da Bélgica que a minha cachopa me trouxe esta cantora, que, até há poucos dias, desconhecia. Angèle tem cara de anjo e voz de chocolate. Volto à canção de Godinho: "Falta ao respeito com uma gargalhada / Fala de nada / E tudo / Deixa-me embasbacado e mudo". De que fala, então, Angèle? Do que os outros falam: "Eles falam como animais / Falam mal de todas as mulheres". E, depois, lamenta: "É, eu não vou passar na rádio". E promete: "Serei educada para a TV". E admite: "As minhas palavras não são amáveis". E atira: "Vai-te f… hum-hum-hum-hum". E isto, logo na canção de entrada ("Balance Ton Quoi"), enquanto nos engana com a sua cara de anjo e voz de chocolate, e nos faz dançar com acordes gentis e ritmos contagiantes. Fiquei "mudo", cachopa. Cachopas.
"Gostava muito de ir a África. Deve ser um país muito interessante". A afirmação foi atribuída a uma "starlet" americana: jovem, rica e loira. Não façam pouco. Há muito europeus a pensar a Europa, de forma semelhante. Alguns são políticos, académicos, comentadores, jornalistas. Queixam-se que "a Europa não decide"; "a Europa não domina"; "a Europa não manda". Esquecem-se que a Europa não é um país: são 27 países da União Europeia e os outros todos. E há uns que, estando dentro, gostariam de estar fora. Comparam a Europa com a América ou com a China e adivinhem quem ganha? Ponham 27 Trumps a falar entre si, em não-sei-quantas-línguas diferentes, e registem o tempo de decisão. Sabe sempre bem, dar uns tiros na União Europeia. Há sempre gente, à volta do gatilho. Uma estranha união dos que estão fora e dos que estão dentro. E entre os que estão dentro: uns são a favor do projeto europeu; outros são críticos do projeto europeu e outros, ainda, contra o projeto europeu. A União Europeia pode e deve ter sentido crítico, autocrítico. Mas, fazer "Tiro ao Álvaro" não é só um "tiro no pé". É correr o risco de "perder a mão".
Presidenciais de 91. Depois de ter vencido Freitas do Amaral, Mário Soares voltava a enfrentar um nome histórico do CDS. Nessa noite, Basílio Horta iria fazer um comício na minha terra. Eu e o Carlos passámos pela casa do Afonso. "O Afonso não está", diz-nos o irmão, a sorrir, "foi ver o primo Basílio". Os dois irmãos eram muito diferentes. O Renato vivia com o pai e era todo "Soares é fixe!". O Afonso vivia com a mãe e tinha sido todo "Prá frente, Portugal!". Já o Carlos, ao meu lado, era todo "Quero lá saber!". Disse o Carlos: "É um tipo fixe, o Renato. Só não percebi a do primo Basílio". Tentei explicar-lhe que Basílio era o candidato às eleições presidenciais, mas ele interrompeu logo: "Ah, então é isso. Eu não tenho pachorra nenhuma para política". "Nota-se", respondi. "Mas porque é que ele disse 'primo'? Eles são primos?". "Por causa do livro do Eça de Queiroz", respondo. "Ah, não tenho pachorra para ler". "Também se nota", respondo. "Ai sim?" (de repente, o Carlos mostrou-se zangado) "Por acaso está escrito na minha cara?!". "Não. Mas, se estivesse, também não ias ler, pois não"?
Amigas e amigos: não se esqueça que hoje é Dia de Valentim.