por Miguel Bastos, em 28.01.25
Há um enorme entusiamo à volta do filme "Ainda estou aqui". Fui vê-lo, no fim de semana, na última fila de uma sala cheia. Fernanda Torres enche a tela, o filme, a alma. O filme passa muito tempo (passa, não perde!) a dar-nos um retrato da vida doce e burguesa da família de Eunice Paiva (Fernanda Torres), no Rio de Janeiro. Uma vida interrompida pela prisão do marido, Rubens Paiva (excelente, Selton Mello!). É preso, porque sim. Porque era assim, naqueles tempos negros que dominam o filme. Eunice/Fernanda vai ser um farol de luz, na escuridão.
Fernanda Torres ganhou um Globo de Ouro, pelo seu desempenho, e fez um discurso maravilhoso, quando recebeu o prémio ("Vocês não fazem ideia: a minha mãe esteve aqui, há 25 anos!"). A mãe, Fernanda Montenegro - que os portugueses conhecem, sobretudo, das telenovelas - também entra no filme. O realizador do filme, Walter Salles, é o mesmo que tinha levado a mãe Fernanda aos Globos de Ouro, há 25 anos (com "Central Brasil").
"Ainda estou aqui" é um extraordinário testemunho da ditadura militar no Brasil e surge numa altura em que os movimentos antidemocráticos se alastram, em todo o mundo. Ou seja, é um testemunho, também, para estes dias ("dias de medo", diz Fernanda Torres).
"Ainda estou aqui" está apontado para 3 Óscares. Não sabemos, ainda, se os vai ganhar, ou não. Mas sabemos, já, o que ganhámos com ele.