por Miguel Bastos, em 27.01.25

"Às vezes perguntam-me: 'Sô Dona Simone, quer um chazinho?' E eu respondo: 'Para ser franca, apetecia-me mais um whiskey, com duas pedras de gelo, e um cigarro'". É por causa de histórias como esta, contadas pela própria, que tanta gente se apaixona por Simone de Oliveira. A Simone da televisão, das revistas, das entrevistas. A Simone da "Desfolhada", do festival, do vestido verde. A Simone do "quem faz um filho, fá-lo por gosto". A Simone que abandonou o primeiro marido e foi mãe solteira e namorada do Henrique Mendes e viúva do Varela. A Simone que perdeu a voz. A Simone atriz: no palco, na televisão, na vida. A Simone maior do que a vida. E com tudo isso, muitas vezes esquecemo-nos que Simone, antes de tudo, é cantora. E não é só da "Desfolhada".
Em 2013, um grupo de músicos - ainda jovens, mas já experientes - resolveu fazer um disco para Simone, com Simone. Um disco novo, com sabor "vintage". Um disco como deve ser: com uma produção rigorosa, orquestrações sumptuosas e arranjos sofisticados. "Pedaços de mim" tem a participação de dezenas de músicos: bateria, baixo, piano, guitarra, acordeão, vibrafone, percussão, harpa, oboés, fagotes, clarinetes, trompas, trombones, trompetes, tuba, saxofones, violinos, violas, violoncelos, contrabaixos. É um disco para Simone brilhar. E Simone brilhou, uma vez mais. Por vezes, fica a sensação de que as canções nem sempre acompanham a ambição da obra. Mas, em todo o caso, é um disco maravilhoso. E Simone está lá, de corpo e alma. E, sim, é cantora: antes de tudo. Depois de tudo, também.