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"Já contei esta história", escreve Ruy Castro. E começa a contar: "Em 2015, uma cantora de bossa nova interrompeu seu show para se referir ao Rio dos anos 70 como 'a cidade ainda maravilhosa'" - onde se podia andar a pé, sem medo. E, depois, começou a cantar a "Carta do Tom", onde Chico Buarque diz "Eu saio correndo do pivete / Tentando alcançar o elevador". A cantora não se terá apercebido da contradição, sublinhada pelo autor do livro "O ouvidor do Brasil - 99 vezes Tom Jobim". Pelos vistos, nos anos 70, a "cidade maravilhosa" já não era assim tão maravilhosa. E quando é que foi? Talvez nos anos 60. Ou talvez não, porque foi nessa década que a capital federal se transferiu para Brasília. Nos anos 50 é que era? Também não. O autor descobriu uma série de entrevistas sobre Carmen Miranda, onde se lamentava o estado da cidade do Rio, e concluiu que, nos anos 50, a cidade já não era maravilhosa. Maravilhosa era nos anos 30. Quer dizer, nessa altura já havia quem lamentasse a construção de casas "Art Déco" que estavam a destruir a paisagem natural do Rio. E, de repente, vemo-nos a recuar até ao século XVI. E são isto as perceções de insegurança, nas cidades "maravilhosas": seja o Rio de Janeiro, de Estácio de Sá; seja a Lisboa, do Martim Moniz.