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Saio de casa, à pressa. A guardar as chaves de casa, num bolso. A procurar as chaves do carro, noutro bolso. A certificar-me se tenho tudo: telefones, carteira, mochila, garrafa de água. Cabeça já sei que não tenho. Já nem a procuro. "Desculpe, senhor..." - um homem, nos seus 50/60, de ar abandonado, esquecido - "sei que está com pressa". Adivinho o que se segue: "Por acaso, não me podia ajudar?". "Por acaso, não", respondo, "não tenho dinheiro nenhum. Entre rifas para a escola, para o futebol, para a associação disto e daquilo, não me sobrou nada". "Não faz mal", diz, "se tivesse, agradecia, mas se não tem, não faz mal". "Tudo o que tenho é uma carteira vazia, quer ver?" O homem, assustado, dá um salto para trás: "Ó senhor, não faça isso!" Pois, não se faz isto. Mas eu fiz. De repente, vejo um euro, a espreitar no porta-moedas. Fico feliz. "Afinal, ainda tenho qualquer coisa". Entrego o euro ao senhor, que me agradece e ainda fica preocupado comigo: "Mas, assim, fica sem nada". "Não se preocupe", digo-lhe, "eu tenho onde ir buscar mais". Desejo-lhe um bom Natal e ele também. Seguimos, rumo a vidas diferentes.
E aqui está o meu conto de Natal. Não é Dickens, eu sei. Mas é meu. Escrevi-o esta manhã, depois de encontrar este senhor e (pasme-se!) a cabeça.