por Miguel Bastos, em 14.10.24
Antigamente, vivia-se o tempo a contar histórias. Geralmente, eram contadas pelos mais velhos - mais sábios e mais experientes - à volta da lareira, "À Volta do Largo". Muitas vezes, as histórias também eram velhas. Quando eram novos, os mais velhos tinham-nas ouvido de outros velhos. Também, eles, tinham sido novos e assim sucessivamente. Muitas vezes, ao ouvir, de novo, uma história alguém dizia: "Essa já é velha". Normalmente, quem o dizia, também já não ia para novo.
Se as histórias não eram novas é porque já tinham sido contadas. E, assim sendo, o contador de histórias devia ser chamado de "recontador". Porque estava a contar uma história, que já lhe tinha sido contada. Porque, muitas vezes, ele próprio voltava a contar uma história que já tinha contado previamente. E ainda bem. Porque é preciso que certas histórias se mantenham vivas. Porque, muitas vezes, o "recontador" conta a história melhor do que a história que tinha ouvido. Porque ele próprio, vai melhorando a sua história à mediada que a vai (re)contando.
Na sexta-feira passada, contei uma história sobre uma companhia libanesa que devia ter aberto o Festival de Marionetas do Porto, mas que não o pôde fazer. Porque há uma guerra no Líbano. Uma guerra que chega até aqui. O velho da aldeia (aqui é em sentido figurado, que ele é do mais jovem que há), Nuno Amaral, ouviu a história e resolveu recontá-la "À volta do Largo". E eu sentei-me, a ouvir. Obrigado, meu velho!