por Miguel Bastos, em 26.08.24
Durante muito tempo, não lia nas férias. Achava esquisito. Os livros levam-me para outro sítios. E eu já estava noutro sítio. E era nesse sítio que eu queria estar.
Para as Berlengas, no entanto, fiz questão de levar um ou dois livros. Nas Berlengas, há (mesmo) muito pouco para se fazer. De maneira que me lembro de ficar a ler, virado para o mar - a alternar as páginas, com o horizonte, a partida e chegada dos barcos, o avanço da tarde e da sombra.
Noutra ilha, a Ilha do Sal, em Cabo Verde, também li. Mas senti que estava a ler o livro errado, no local errado. Um livro inglês com classes sociais, industrialização, quintas, amantes, viagens pela europa, frio, chuva, casas de campo. E eu, estendido numa espreguiçadeira, a apanhar banhos de sol, de vento e de mar. Senti-me um inglês no Algarve. E não gostei.
Se ler é viajar, não faz sentido viajar para dois destinos diferentes em simultâneo. Não ler é sempre uma opção. A outra, requer uma boa combinação entre o que se lê e o local para onde se vai.