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- Então, porque é que os nossos produtos não a estão a vender? - perguntou o diretor.
- Estão vender, chefe. Menos, mas estão.
- Eu sei que estão, mas estamos muito longe da liderança. Alguém quer-me dizer porquê?
E, então, chegavam as justificações:
"por causa das importações diretas", "das promoções agressivas", "das regras da grande distribuição", do "dumping".
- Estamos a falar de coisas fora da lei? Se estamos, têm de ser denunciadas - continuava o diretor.
- Anda, para aí, muita trafulhice, chefe. Por isso é que os tipos estão a vender mais do que nós.
- Mas, nós já estivemos muitas vezes na liderança.
- Pois, chefe, mas agora...
- "Mas agora"... Acham, mesmo, que só há trafulhice quando estamos a perder? Ninguém acredita nisso.
- Acha que não?
- Só se for no futebol. Mas não lhes serve de nada.
Há uma expressão que eu, até há pouco tempo, desconhecia: "ao fim do dia" ou "no final do dia". Parece-me uma tradução direta, do inglês, de "at the end of the day". Em português, temos, pelo menos, duas expressões com um significado semelhante: "ao/no fim de contas" ou "ao fim e ao cabo". Mas, pelos vistos, nem uma, nem outra, são capazes de traduzir o tempo - moderno e cosmopolita. Conseguem imaginar os ingleses a dizer "in the end of the bills" ou "at the end of the cable"? Bem, talvez no "Alô, alô".
80 anos. Dia de celebrar a vida de Chico Buarque. A sua e todas as que tem cantado.
Não podemos subestimar um país que nos deu Václav Havel, Franz Kafka, Milan Kundera, Antonín Dvořák e um autogolo. Não podemos, nem devemos. Gratidão, como agora se diz.
Há muito, muito tempo, era eu uma criança. Eramos todos, de resto. Fomos ver um jogo de basquetebol. Um Benfica - Barreirense ou um Benfica - Queluz, já não me lembro. A maioria nunca tinha visto um jogo de basquete. Alguns nem gostavam, apesar de nunca terem provado. Mas lá fomos. Não me recordo do resultado. Mas lembro-me da surpresa dos meus amigos com o resultado. Contavam com uma vitória esmagadora do Benfica - o que não aconteceu (ganhou por um ou dois pontos). E contavam ver os grandes jogadores do Benfica. "Como assim?", perguntei. "Então, o Bento, o Nené, o Chalana... ". Estranhei: "Mas esse são jogadores de futebol!". "Eu pensei que eram os jogadores do Benfica, mas a jogar basquete!". Ainda reclamei "Isso não faz sentido nenhum!". Mas o Paulinho, com a sabedoria dos seus cinco anos rematou: "Não admira que estivessem a perder, pouparam nos craques!". É isso, Paulinho. Dois pontos. Golo.
(Na imagem, o português Neemias Queta. Campeão da NBA, pelo Boston Celtics)
António Costa poderá vir a ser presidente do presindent. A hipótese está a causar uniões, mas, também, divisões e, sobretudo, equívocos. Para que não haja dúvidas: se António Costa for escolhido, não vamos ficar ricos. E a fome não vai acabar. Nem a inveja. Nem a mentira. Por favor, não confundam as coisas: ser presidente do Conselho Europeu é uma coisa; ser Miss Universo é outra.
A coisa foi feia, com mortes que só podiam ser crimes e que estavam a minar a igreja, por dentro. Era preciso resolver o assunto. E foi, por isso, que chamaram William de Baskerville, que resolveu o mistério. A tragédia radicava, afinal, na comédia. O riso, defendeu o velho Jorge de Burgos - guardião da biblioteca e da moral - cria dúvidas e afasta o medo. E sem medo, não há temor a Deus. E sem temor a Deus, não há crença, nem religião.
Umberto Eco escreveu "O nome da Rosa", há 40 anos. Esta manhã, o Papa Francisco chamou humoristas de todo o mundo. Para lhes dizer que "quando vocês fazem alguém sorrir, Deus também sorri". Sem medo.
António Variações morreu no dia de Santo António. E de Fernando Pessoa. E cantou Fernando Pessoa, a partir de um poema chamado "Canção". Sempre que ouço a "Canção", sinto um nó, na garganta, e um arrepio, na espinha. Escreve o Fernando e canta o António: "Mal oiço, e quase choro / E porque é que eu choro, não sei". A voz é sofrida, a melodia é fúnebre. É difícil não pensar na morte de Variações. Estaria, ele, consciente da chegada da sua própria morte, quando compôs ou cantou a "Canção"?