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Casa de banho masculina, no museu dos ABBA, em Estocolmo.
É coisa de homem.
"Ganhe um corpo de sonho", disse o anúncio, a oferecer um conjunto de estratégias e exercícios a um preço imbatível. "Um corpo de sonho". Segui a receita e resultou. Fiquei com um corpo de sonho. De sonho! Depois, acordei.
O coelho, o lobo mau e os pássaros do sul. A campanha está na rua. E está na rádio. "É o bicho!", dizem, "É o bicho!" Para devorar, aqui.
O avô era comerciante, de profissão; e comediante, por vocação. Apesar de amador, neste campo, usava as técnicas dos profissionais: escolhia um alvo e não largava o osso. Dessa vez, escolheu a primeira licenciada da família e carregou no formalismo e nos salamaleques:
- Sô Tora, obrigado por nos ter brindando com a sua elegância.
A "doutora" sorria.
- E não me refiro, apenas, à escolha da indumentária, mas também da excelente forma física em que se encontra.
A "doutora" tentava disfarçar algum embaraço.
- Permita-me que lhe sirva um copo de vinho. Espero que este bairrada de reserva esteja à altura da sua fineza.
- Obrigada.
E, depois, outro. E, ao terceiro:
- É melhor, não, que eu não estou habituada a beber.
- Pois eu diria que este bairrada devolve, a Vossa Excelência, a cor exigida pela beleza do seu rosto.
- Já percebi que estou a ficar muito corada.
- Eu diria "coradinha", uma cor que lhe realça a nobreza, que lhe é natural.
É, então, que o tio se aproxima:
- Ó avô, não seja chato!
- Estou só a garantir que a doutora não passa sede, já que você não tem essa preocupação.
E, virando-se para a "doutora" solta um:
- Permita-me só um bocadinho.
- Mas só um bocadinho!
O tio volta à carga.
- Ó avô, não vê que a menina não quer mais vinho.
O avô não perde o tom.
- Fique a saber, cavalheiro, que "a menina", como diz, já é "doutora".
- Mas está a ser chato, avô, não vê?
É, então, que o avô muda de tom.
- Chato és tu. Sempre a interromper... e digo-te mais...
Volta-se para nós, pisca o olho e vira-se, de novo, para o tio.
- ... e digo-te mais: se não estivesse aqui a doutora, chamava-te cabrão.
- Então, Vera, a comer chocolates?!
- Pois estou, Miguel. São belgas. Deliciosos.
- Então, e a dieta?
- Acaba de ser interrompida. São muito bons.
- Pois, mas engordam.
- Ai, acho que vou comer a caixa toda!
- Então, anda dias e dias sem comer e, agora, é isto?
- Qual é o problema?
- O problema é que vai voltar a engordar.
- Mas são tão bons!
- Mas engordam na mesma, Vera.
- Ah, mas eu só engordo com coisas boas!
Este disco custou-me 1 650 escudos. Pouco mais de 8 euros, há mais de 30 anos. Uma fortuna, portanto. Nessa altura, a rádio não me pagava um salário - dava-me uma mesada, que eu trocava por joalharia rara. Neste caso, guitarras de filigrana; canções artesanais, sussurradas na voz e cosidas à mão. Imperfeitas. Rarefeitas. Três, de cada lado. Meia hora de música, apenas. Tempo que eu multiplicava, trocando de lado, tocando até à exaustão.
Em menos de 10 anos, os Felt editaram 10 discos. Uns, mais parecidos com os outros. Outros, mais diferentes dos outros. Todos bons. Este foi o primeiro deles. E foi, também, o meu primeiro. Raro, caro. E precioso, claro!
Música, aqui:
- Ó pai, o "Quebra-Nozes" é um bocado música clássica para crianças. Não é?
- É.
- Então, esta música é um bocado Tchaikovsky para jovens. Não é?
- Para jovens como tu ou como eu?
- Como eu, pai.
- Ai sim?
- Sim, tu já és um jovem um bocado cota.