por Miguel Bastos, em 06.09.23
"Assim mesmo é que é! (Diz o progresso)", canta Vitorino, na "Leitaria Garrett". A canção, de 1984, foi um sucesso: falava de uma leitaria em concreto, em Lisboa. Mas não era difícil pensar noutras leitarias, espalhadas pelo país, ameaçadas pelos "patos bravos" da moda. A "minha" Leitaria Garrett ficava numa casa tradicional portuguesa, na principal avenida de Aveiro. Quando eu cantava a Leitaria Garrett, cantava a "Seletarte", com as suas "madames" e "empregaditas", espalhadas pelo rés do chão. No primeiro andar - sede do PCP - cantavam-se os amanhãs.
Até que os amanhãs chegaram. De uma penada, "o progresso" arrasou os azulejos artísticos, a serralharia decorativa e os vidros coloridos, da Vivenda Aleluia, cuja autoria é atribuída a Silva Rocha. O arquiteto assinou grande parte das casas que dão, à cidade, a fama de "Capital da Arte Nova". Só que a fama é efémera e não resiste ao "progresso". Outros valores se levantam: no caso, dez pisos e mais de 4 mil metros de construção - para habitação, comércio e serviços. Obrigado, progresso.