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"Espetáculos musicais, sem músicos, sabem-me a pouco", disse David Ferreira, esta manhã, na Antena 1. A afirmação veio a propósito das passagens de Rosalía e dos Pet Shop Boys pelo Primavera Sound. A Rosalía diz-me pouco, porque conheço pouco. Já os Pet Shop Boys dizem-me muito. São das minhas bandas preferidas. E, mesmo assim, não me chamaram ao festival. Nos festivais desfilam-se os sucessos do costume, os Pet Shop Boys praticamente não usam músicos em palco e (convenhamos) Neil Tennant é um cantor muito limitado. Portanto, sem música, sem músicos e sem cantor, ficamos com o quê?
Mais de 40 anos depois, continua a ser difícil apresentar música pop, de pendor eletrónico, em palco. Durante muito tempo, várias bandas optaram por fazer discos, sem os apresentar ao vivo. Depois, com a fiabilidade das tecnologias musicais e com o desenvolvimento das tecnologias visuais (e com o quase fim da venda de discos) fizeram-se à estrada. Vi as imagens do palco dos Pet Shop Boys e (sinceramente) gostei muito do que vi. Esteticamente, os Pet Shop Boys (as capas dos discos, os videoclips, as roupas, os palcos) sempre foram irrepreensíveis. Mas, temo que o apuro estético resulte num ciclo vicioso. As imagens servem para ilustrar a falta de música e vice-versa. Os músicos, os cabos, os "roadies" estragam o cenário. Temos visto isso, todos os anos, no Festival da Canção e da Eurovisão.
Já viram os Pet Shop Boys, ao vivo, com um coro, percussionistas, naipe de metais, orquestra de cordas e com o Johnny Marr, na guitarra? Eu já. Não me soube a pouco, soube-me a tanto. Infelizmente foi, apenas, na minha cabeça.
David Ferreira a contar, aqui:
https://www.rtp.pt/play/p955/e698104/david-ferreira-a-contar
Hoje, estacionado na Antena 2. Próxima estação, Antena 3.
Durante muito tempo, acreditei que Astrud Gilberto não era brasileira. Nesse tempo, a informação era pouca e chegava devagar. Astrud não soava a nome português/brasileiro. A cantora também não. Tinha uma fragilidade - na voz, no canto, na pronúncia - que parecia denunciar a sua condição de estrangeira. E, isso, dava-lhe um certo encanto. Muito, até. A pouco e pouco, fui sabendo pormenores. A cantora tinha ascendência alemã, mas era brasileira, da Baía. Mudou-se, com os pais, para o Rio de Janeiro, onde se tornou amiga de Nara Leão. Foi Nara quem a apresentou a João Gilberto, com quem se casou. Uns anos depois, foram viver para os Estados Unidos. Foi lá, que João Gilberto gravou uma nova versão da “Garota de Ipanema”, com o saxofonista norte-americano Stan Getz. Astrud cantou por acaso. Ela não era cantora, mas passou a ser a voz de uma das canções mais famosas, de sempre e do mundo inteiro. O casamento acabou pouco depois: João Gilberto voltou para o Brasil, Astrud ficou. Morreu, aos 83 anos. Estrangeira, como a tinha imaginado.
Agora a série (ui, linguagem inclusiva!). Os modernos estavam tão embrenhados na discussão sobre qual a série mais "cool" da actualidade - "Sucession" ou "Rabo de Peixe" -, que passaram ao lado da série do momento - a série "E". Alerta "spoiler": não vale a pena puxar atrás ou subscrever porque já acabou. Mesmo. (Eu sei que não é comum nas séries). Segue-se a série "F".
As crianças não têm boa fama. Hoje, é o dia delas e, portanto, vamos ouvir coisas como: " Descobrir a criança que há em mim", "As crianças são o melhor do mundo" e "As crianças são o dia de amanhã". Mas, amanhã, vamos ouvir coisas como: "Não sejas criança", "Estás a ser infantil", "Não vamos infantilizar". Houve um tempo, em que as crianças não existiam. Eram, apenas, adultos incompletos. Depois, passaram a existir. Rapidamente, no entanto, foram substituídas por uma nova espécie: os jovens. Os jovens, sim, são "fixes": têm beleza e força física, inteligência e ousadia, coragem e frescura. Convenhamos, quando dizemos que somos muito jovens ou que a avó está muito jovem - assim, sem adjetivos nem conservantes - estamos a tecer elogios. Mas, quando dizemos que a avó está a ser uma criança, não soa a elogio. Pois não?! O culto da juventude arrasou a ideia de crescimento e desenvolvimento, ao longo da vida. As crianças querem crescer muito depressa, para serem jovens. Chegados à juventude (e é tão depressa) querem-se manter lá, a vida toda. Percebo as crianças. Quem nunca quis ser grande? Já os adultos... Bem, acho que os adultos, com esta mania de serem "bué" de jovens, a vida toda... Os adultos, dizia, estão a ser muito... muito (à falta de melhor termo)... muito infantis.