Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
"E então", contou-me a minha amiga, "fomos para um hotel. Para uma daquelas coisas de cultura de empresa e liderança e espírito de equipa. Mas com aqueles termos em inglês, estás a ver?" Digo que sim, com a cabeça. "E diz-me a minha chefe: 'Tem alguma sugestão, para baixarmos os custos da empresa?' 'Tenho', disse-lhe eu, 'Que tal deixarmos de fazer estes encontros em hotéis de luxo?'. E ela 'Ai, ai, você é um ponto!'"
Arreganhei a taxa. Juro que não sei, porque é que me lembrei desta história. Juro.
- Cortaste o cabelo?
- Cortei.
- Não devias cortar tanto. Pareces mais velho.
- Ai, sim?
- Sim, notam-se mais os cabelos brancos.
- Certo.
- É engraçado, tu és o mais novo, mas és o que tem mais brancas.
- Obrigado, mãe, também gosto muito de ti.
A situação deste fim de semana foi, realmente, Prigoza ou foi, apenas, Prigozhinha?
Ter uma obra-prima é uma bênção, mas, também, pode ser uma maldição. Estrear-se com uma obra-prima, pode acabar por ofuscar uma carreira. Foi o caso dos ABC, com "The Lexicon of Love". A obra-prima transformou-se numa filha-da-mãe. O disco seguinte "Beauty Stab" - (ainda) mais David Bowie e Roxy Music - passou tão despercebido, que se perdeu. Os ABC têm passado grande parte da sua carreira à procura de um novo "The Lexicon of Love", da atenção do público e de si próprios. Por vezes, estiveram perto. Mas, nunca mais acertaram em cheio. Que pena! Esta mistura de Clash com Chic, de Bowie com Smokey Robinson, foi tentada (e conseguida) por outras bandas da altura. Os Duran Duran, por exemplo, conseguiram-no com mais sucesso comercial. Mas ninguém fez tão bem a ponte entre o "glam", o "punk", o "disco" e a "blue eyed soul", como os ABC.
Acordo, abro a janela e verifico que tenho uma carrinha funerária à porta de casa. Felizmente, uma das minhas qualidades é que sou bom para ir buscar a morte. Mantenho a calma. Preparo e tomo o pequeno almoço, despacho a criançada, vejo o correio eletrónico, arrumo a cozinha, tomo um duche rápido, visto-me e, finalmente, saio de casa.
Olho para dentro da carrinha: um colchão, dois sacos de cama, uma mochila, um saco de compras. Portanto, a carrinha funerária acampou, à minha porta. Suspiro, finalmente. Confesso: a dada altura, como no fado de Amália, "Cuidei que tinha morrido".