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Já não temos fome mãe
Mas já não temos também
O desejo de a não ter
Já não sabemos sonhar
Já andamos a enganar
O desejo de morrer
Ai, Amália, você mata-me! E eu ainda não estou preparado para ... bem, você sabe!
A canção pode ser ouvida, aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=TUq1MYIDttY
Portanto, as pessoas estão indignadas com o encerramento da Feira do Livro de Lisboa, por causa dos festejos do Benfica. Eu confesso que também fui apanhado de surpresa. Afinal, este é o país que tem três jornais diários sobre livros e literatura. Mas, a verdade é que já não tenho paciência para os programas de debate sobre livros. É sempre a mesma receita: um adepto do Lobo Antunes, outro do Saramago e outro do Rodrigues dos Santos, aos gritos. Aquilo não tem utilidade nenhuma: discute-se a extensão da frase ou do parágrafo, analisa-se a densidade dos personagens, contam-se as figuras de estilo... credo! E as antevisões da narrativa?! E o balanço das edições, na sala de imprensa?! Haja paciência! Para mim, um intervalo para futebol é uma lufada de ar fresco.
"Achei que essa letra, dramática, fazia mais sentido cantada pela Tina Turner. Mas, nessa altura, ela estava a despedir-se do público, depois de 50 anos de carreira. Acabámos por ser nós a gravar", disse, Neil Tennant, dos Pet Shop Boys. A dupla já tinha escrito para Tina Turner. E, antes, já tinha escrito para outras divas, como Dusty Springfield e Liza Minelli.
Tina teve uma segunda vida quando regressou, no início dos anos 80, com a ajuda de um conjunto de compositores mais novos. A canção-título do álbum "Private Dancer", por exemplo, foi escrita por Mark Knopfler (dos Dire Straits). Apesar de não ter sido escrita para ela, fez todo o sentido: na sua voz, na sua entrega, na sua garra, na sua história, na sua vida. Era ela. Tina era o que cantava. Tudo o que cantava passava a ser dela. Até o que não cantou.
Volto ao início. A canção que Neil Tennant falou chama-se "The way it use to be". A dada altura, diz assim: "Don't give me all your northern pain / Don't sell me New York in the rain / Let's leave our promises behind / Rewind and try again". Tina nunca a cantou, mas é, sempre, a voz dela que eu ouço na minha cabeça.
A canção dos Pet Shop Boys, de que falo, é esta:
https://www.youtube.com/watch?v=cibw8Hsab28
A canção que escreveram para a Tina Turner é esta:
Gosto de misturas. Gosto da música que nasce da mistura e que gera novas misturas. Em 1976, Vinicius de Moraes ("O branco mais preto do Brasil") e o seu companheiro, Toquinho, cruzaram o oceano, para se misturarem com a italiana Ornella Vanoni. Ornella é uma espécie de Simone "lá deles": uma cantora talentosa e carismática; diva da canção "leggera"; atriz de teatro e cinema; presença, assídua, na rádio e na televisão. Dona de um vasto repertório, Ornella abordou o cancioneiro de Vinicius e Toquinho, num disco que começa com "Senza Paura / Sem medo" e vai, sem medo, até ao fim. "La voglia, la pazzia, l'incoscienza, l'allegria" não é, no entanto, um desses discos típicos da moda "world music" que chegaria nos anos 90, somando instrumentos e sonoridades contrastantes. Este é um disco típico de Ornella - seguindo a tradição italiana e europeia - com a bossa e o samba, da dupla brasileira. E tudo soa fluído, escorreito e natural: a cantora italiana a sambar e os cantores brasileiros a cantarem em italiano (Vinicius foi diplomata em Itália, o que terá ajudado). A sensação de que já conhecíamos as canções é confirmada pelo facto de, efetivamente, já as conhecermos. Mas, ao mesmo tempo, tudo é fresco, tudo é novo e tudo é puro, como numa canção de Jarabe de Palo que diz que "No puro não há futuro / A pureza está na mistura". Foi assim, em 1976, e continua a ser. Ornella tem quase 90 anos. Há dois anos, gravou um samba. Ornella ainda é mistura, ainda é futuro.
- Quem é que escolheu este canal?
- Não sei. Queres que peça para mudar?
- Está bom. Não há paciência para aquelas coisas no parlamento.
- Pois.
- Acham, mesmo, que os portugueses têm paciência para aquilo? Os portugueses querem é saber da economia, do emprego, da educação, da saúde...
- O que é que estás a fazer?
- Vou só espreitar o telefone, porquê?
- Porque deves ser espanhol.
- Não percebi.
- "Os portugueses querem é saber da economia e do emprego..."
- Gostas muito de vestir de preto, não é?
- Gosto. Mas, também, gosto de cores.
- Não tens um padrão?
- Não, tenho vários.
Esta série nova - CPI TAP - deve ser boa, porque tem passado em vários canais. Não tenho visto, mas deteto-lhe um defeito. O elenco está a mudar muito. E, isso, dificulta o acompanhamento da história e a ligação aos personagens.
- Tu já conhecias os Coldplay?
- Sim.
- Há muito tempo?
- Devo ter sido das primeiras pessoas a ouvir Coldplay, em Portugal.
- A sério, pai?
- A sério.
- Porquê?
- Porque, na altura, estava a trabalhar na empresa que lançou os Coldplay.
- E, eles, já eram bons?
- Já eram belos. E amarelos.