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25 de Abril, é só nosso?

por Miguel Bastos, em 27.04.23

maxwell.jpg

O 25 de Abril é "nosso", foi um dos argumentos utilizados para questionar ou, mesmo, repudiar a presença do presidente do Brasil, em Portugal. É "nosso", sim. Mas, será só nosso? Dei por mim a reler partes deste livro do historiador britânico Kenneth Maxwell (especialista em Portugal, Espanha e Brasil). O livro aborda "A construção da democracia em Portugal", centrando a sua análise no período entre 1974 e meados da década de 1980 - com a entrada na CEE, a eleição presidencial de Mário Soares e as maiorias absolutas de Cavaco Silva. Mas contextualiza este período, de pouco mais de 20 anos, com a história de Portugal: desde a sua fundação, até ao período do Estado Novo. O livro do historiador termina com Ciência Política, evocando a "terceira vaga de democratização", de Samuel Huntington. De acordo com esta teoria, o 25 de Abril foi o precursor da transição democrática nos países da América Latina e da Europa de Leste, na transição dos anos 80 para os anos 90. Fomos, portanto, uma inspiração para o mundo. Mas, pelos vistos, há quem prefira que sejamos os maiores da nossa aldeia.

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Trovante

por Miguel Bastos, em 26.04.23

trovante chao.jpg

- Não me digas que gostas dos Trovante?
- Chegaram a ser das minhas bandas preferidas.
- Ai, não tenho paciência para aquela gente.
- Que gente?
- Os betos de camisa de marca, por fora das calças, e sapatos de vela e fios de cabedal...
- Pois, mas os Trovante não vieram daí.
- Não vieram da linha?
- Não, vieram da esquerda.
- A sério?
- Pensa no nome: "Trovante" é a junção de "trova" com "avante".
- Música de intervenção?
- Sim, politicamente empenhada. Misturavam música popular, com jazz e rock.
- Tens algum disco deles?
- Vários. Comprei o primeiro álbum deles numa discoteca...
- Na linha de Cascais!
- Não... numa loja onde a malta de esquerda se costumava juntar.
- Tenho que ouvir isso.
- Não tens, mas podes. E estás, sempre, a tempo.

Música aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=hml9ubcstRo

 

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Aula sobre democracia

por Miguel Bastos, em 24.04.23

cravos.jpg 

O presidente da República fez mais de 500 quilómetros para assinalar os quase 50 anos de democracia, em Portugal. Recorreu à sua vocação de professor e aos seus dotes de comunicador, para dar uma espécie de aula sobre democracia, num auditório repleto de jovens. O presidente foi recebido com grande entusiasmo. Os jovens bateram palmas e assobiaram, com a excitação reservada às celebridades. Depois, o presidente começou a falar e a juventude esmoreceu. Quando começou a distinguir a monarquia e a república, a Rita resolveu mergulhar no "Instagram". Quando abordou a guerra colonial, o João decidiu fazer uma guerra "online" com o colega do lado. A reflexão sobre a natureza dos partidos políticos foi ofuscada pelas imagens dos guerreiros de "wrestling" do telemóvel do Hugo. E a emergência do populismo não resistiu ao livro do Harry Potter (na realidade, o Harry Potter também não resistiu ao "TikTok" - pois não, Mafalda?"). Bem sei que estava na fila de trás (local onde se costumam sentar os jornalistas e os maus alunos). Bem sei que, nas filas da frente, havia alunos interessados e participativos. Mas, foi uma espécie de constatação "in loco" de algumas das assimetrias sublinhadas pelo presidente: na política ou na educação "há muito bom e há muito mau". O presidente exortou os jovens: "participem", "envolvam-se", "manifestem-se". Uma parte significativa não respondeu, porque estava demasiado ocupada, a bocejar, no ciberespaço. A dada altura, o presidente contou uma história para ilustrar a importância das pessoas se manterem independentes dos cargos políticos: "Eu tinha colegas meus, jovens, que tinham acabado de sair da faculdade e foram convidados para secretários de Estado. Quando saíram do governo não sabiam o que fazer. Achavam que, depois de terem sido secretários de Estado, só podiam ser ministros ou presidentes de um banco". "O que é que achas que eu devo fazer?", perguntavam-lhe. "Eh, pá! E se fosses trabalhar?", respondia-lhes. A resposta (como é evidente) não é válida, apenas, para ex-secretários de Estado. No final - de novo - as palmas e os assobios, reservados às celebridades. E uma selfie (claro!), para partilhar no ciberespaço.

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Teatro

por Miguel Bastos, em 21.04.23

©TUNA_TNSJ-longaJORNADApromoABR12_NET-5896.jpg

Ouço-me, nos arredores da cidade, com vista para um campo plantado com galinhas, sanitas e pneus. O encenador Ricardo Pais regressa ao Teatro Nacional de São João, casa que dirigiu durante 10 anos. O assunto é notícia. O trabalho de reportagem teve dois atos, com um longo interlúdio com o Presidente da República, no dia em que vetou a lei da eutanásia. Só retomei o trabalho sobre a peça de teatro, já cansado, ao final do dia. Daí a vontade de verificar, no dia seguinte. Será que ficou bem? Aparentemente, sim. No regresso a casa, puxo a emissão da Antena 2 atrás e ouço a voz de Ricardo Pais a abrir e, depois, a trespassar a manhã. Descanso, finalmente.

[Fotografia: Teatro Nacional de São João]

Para ouvir aqui (Reportagem aos 7'40''):

https://www.rtp.pt/noticias/noticiario-antena1/10h00-edicao-de-miguel-soares_a1_1480832?fbclid=IwAR1vnfpYx6tIMQYDve7hBSmyCDQoH4FLaBbFP-5eliQUQv13g89O1JHcZzM

 

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Não há planeta B

por Miguel Bastos, em 19.04.23

"Celebrar o quê? Não há planeta B!", disseram os jovens que mostraram as nádegas (bué original!) escritas com a palavra "ocupa". Ocupa, quem? Ocupa o quê? Ocupemo-nos da rima. Formalmente, é melhor do que a chamada rima pobre - com verbos, no infinitivo, a acabar em "ar" ou "ir". Mas não resiste à análise de conteúdo. "Celebrar o quê?", perguntam. "A democracia", respondemos. "Não há planeta B!", exclamam. "Nem democracia B", afirmamos. Em rima: "A alternativa existente, não dá bom ambiente" ou, ainda, "Calças para cima, em nome do bom clima". Não são rimas excecionais, mas é um começo...

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Ahmad Jamal

por Miguel Bastos, em 18.04.23

ahmad.jpg 

A dada altura, os discos de vinil começaram a rarear. O CD é que era. Era moderno, era "cool" e era caro. O vinil já era. Aproveitei para comprar alguns discos adiados, que, agora, estavam abandonados nas prateleiras. Aproveitei para experimentar outros géneros musicais adiados, como o jazz. Mas, por onde começar? Comprei este disco, sem ouvir. Algo que não costumava fazer. Mas, a papelaria não tinha gira-discos. Não conhecia Ahmad Jamal, mas já conhecia Gary Burton. E conhecia a "Manhã de carnaval", de Luiz Bonfá, que abre o disco. E já sabia que o amor entre o jazz e a música brasileira dava bons filhos. Levei a dupla para casa. A papelaria já faleceu, há uns anos. Ahmad Jamal morreu, há dois dias.

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Morreu Joaquim Pessoa

por Miguel Bastos, em 17.04.23

Morreu o poeta Joaquim Pessoa. Gostava de conhecer melhor o seu trabalho poético. Vou adiando para "um dias destes", que é um local habitado por muitos poetas e escritores. Conheço Joaquim Pessoa, das canções. A rádio e os jornais destacam (bem) a "Amélia dos olhos doces" (Carlos Mendes) e "Lisboa, menina e moça" (Carlos do Carmo). Mas é curto. Ele tem tantas canções! Só no disco "Uma canção para a Europa", que corresponde às canções do Festival de 1976, Carlos do Carmo canta três poemas seus: "Lisboa Menina e Moça" (em parceria com Ary dos Santos), Cantiga de Maio (não confundir com a canção de José Afonso) e "Onde é Que Tu Moras?" (uma das canções da minha vida). Só essa, já era muito. Mas há mais, muitas mais.

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Coração

por Miguel Bastos, em 17.04.23
- E depois, pai, os meninos começaram todos a falar e a fazer barulho...

- Pois, filho, e a professora claro que se zangou.

- E disse que a culpa era minha!

- E não era?

- Não, pai, eu estava caladinho.

- Devias-lhe ter dito, filho.

- E disse, pai, mas professora respondeu "é, é"!

- E, então, o teu coração ficou triste.

- Não, pai, ficou azul e branco. Como sempre!

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Socialismo dentro de casa

por Miguel Bastos, em 15.04.23

mau maria.jpg 

"A tua vontade, justiça, igualdade / Não chega aqui dentro de casa", canta a Mariazinha, que se vai tornar Marta, numa das melhores criações de José Mário Branco. Sempre foi das minhas canções preferidas. Fala da mulher, dos direitos da mulher, esquecidos na agenda do homem que, por mais de esquerda que fosse, tinha outras preocupações e prioridades. "E fico à espera que me socializes", canta Maria (zinha), já em transformação para Marta. Lembro-me de ouvir a canção a pensar nas mulheres. Como é que é possível que alguém que se queixa do patrão, que luta pelos seus direitos, não se aperceba que, em casa, reproduz o que lhe fazem fora de casa? Sim, muitas vezes, o socialismo fica à porta de casa. Porque não sai de nós próprios, não sai para os outros, é um socialismo só para nós. O que é, obviamente, a negação do socialismo. Pensei, muitas vezes, nesta canção. Extrapolei-a, para pensar que todos nós, explorados, somos, tantas vezes, exploradores dos que nos rodeiam. Mas, hoje, apetece-me voltar a fechar o foco. Porque há um homem, visto como farol da esquerda, que está a enfrentar um processo de assédio sexual em praça pública. Não sei (não sabemos, ainda) se as suspeitas têm fundamento. Mas sei que, em 1972, José Mário Branco já escrevia sobre mulheres que se transformaram em Martas. Martas que cantam: "Sei aquilo que fui e que jamais serei".

Canção aqui: https://youtu.be/Av-bxaTtkYs

Letra aqui: https://genius.com/Jose-mario-branco-aqui-dentro-de-casa-lyrics?fbclid=IwAR1-c6nkKXxyhk6j2fIMKaV58dcoMmWFqYG8nGrDZs1G0HPwQ8V2aVug27E

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Bom tempo

por Miguel Bastos, em 14.04.23

chuva.jpg 

A partir de amanhã, vai estar tão bom tempo, tão bom tempo, que já há avisos de "Cuidado com os agueiros", "Evite sardinhadas junto a espaços florestais" ou "Sr. Eduardo vista a camisola, por favor, para disfarçar a barriga". Vai estar tão bom tempo, dizia eu, tão bom tempo, que dei por mim a fechar o casaco, a abrir o guarda-chuva e a pensar "nunca mais é sábado".

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